Os anos 90 representam uma década de suma importância para a consolidação da estética visual no cinema americano. O surgimento de diretores de forte apelo comercial mas com marcas características do cinema de autor possibilitou um estímulo à criatividade no uso de cores, formas e movimento. Eis que o sucesso de gênios como Tim Burton e Quentin Tarantino não tardou a incentivar uma nova geração de diretores de filmes bem-sucedidos e de beleza visual ímpar, a exemplo de Robert Rodriguez e de Zack Snyder, que estreia, agora, seu quinto longa-metragem, o lúdico Sucker Punch – Mundo Surreal (Sucker Punch, Eua, 2011).
As agruras de uma jovem de família rica dos anos 50 apenas dão a partida para sua jornada pela liberdade. Ao ser internada em um hospício feminino, responsável pela morte de sua irmã e classificada como louca, a garota procura garantir sua sanidade através do seu único bem imaterial impassível – o desejo de provar a participação de seu padrasto na cena do crime. É quando torna-se claro que o hospital psiquiátrico nada mais é do que uma fachada para o funcionamento de um casa de prazer coordenada por um cruel cafetão.
A figura da jovem inocente e perturbada dá lugar à sensual e exímia dançarina Baby Doll – pseudônimo da garota dentro das grades da instituição. A resistência à humilhação é estimulada pelo seu desejo intenso de se libertar e, como alternativa para desviar sua mente da realidade, Baby Doll cria um universo paralelo e escapista para reconstruir, dentro de si, as tarefas que desempenha como parte de seu ambicioso plano de fuga que lhe parece ser a única solução para continuar a viver.
A loucura estética do responsável pela corajosa refilmagem de Madrugada dos Mortos e os belíssimos Watchmen e 300 perdeu um pouco da sua verve vanguardista, mas garantiu, com o peso da experiência, um filme equilibrado e bastante criativo do ponto de vista visual. O uso de duas matrizes estéticas garantiu a separação precisa entre os dois universos de Baby Doll, mesclando efeitos visuais de primeira que dão a impressão quase constante de uma imagem difusa e onírica.
É comum perceber, em diretores que primam pela estética como ponto de partida de suas narrativas, um reconhecimento imediato às suas obras. E mesmo que ainda não haja um padrão estético que delimite os filmes de Snyder, já é possível, aos poucos, reconhecer o estilo de condução de suas histórias. Nada mais justo para um diretor que, ávido por desvendar mundos fantasiosos e fantásticos, recorre ao elemento inerente ao cinema; sua definição máxima – o poder irrefutável da imagem.
