sexta-feira, 11 de março de 2011

O Mundo Não Vale o Mundo, Meu Bem

É ímpar a visão das crianças sobre o mundo; crianças são despidas de predisposições do tempo e livres para construir suas próprias idiossincrasias – e, assim, é admirável a percepção que os pequenos dividem sobre questões tão delicadas como, por exemplo, moral, ética e violência. E é justamente em cima desse recorte particularíssimo sobre os dissabores do mundo que a diretora Susanne Bier nos entrega o belíssimo “Em Um Mundo Melhor” (Haevnen, Dinamarca/Suécia, 2010), vencedor do Globo de Ouro e do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro desse ano.


A frieza nórdica de Copenhague é o cenário da chegada de Christian (William Johnk Nielsen), que, após perder a mãe, volta de Londres para viver com o pai e a avó em um casarão nos subúrbios da cidade. Christian desenvolve, rapidamente, uma amizade inesperada com Elias (Markus Rygaard), vítima de um “bully” agressivo em sua escola. Enquanto isso, Anton (o ótimo Mikael Persbrandt), pai de Elias, encontra-se em meio a dois conflitos: médico em uma missão africana, Anton tem que conviver com a ameaça da violência no Sudão e com a deterioração de seu núcleo familiar.


Elias, Christian e Anton, a grosso modo, procuram destrinchar a reação do homem ante aos males do mundo: Anton, preciso e ponderado, enxerga a violência como ímpeto da ignorância, mantendo-se, assim, à margem do confrontamento. Elias, tímido e inocente, encolhe-se num casulo de sofrimento calado, porém corajoso. Christian, agressivo mas doce, desconta o peso de sua dor com rancor e impulsividade. O trunfo de “Em Um Mundo Melhor”, pois, está na capacidade de Susanne Bier (responsável pelo aclamado “Depois do Casamento”) de equilibrar seus protagonistas em um tripé que define o homem e seus atos.


A correlação entre a violência no Sudão e a desestruturação de uma família a partir de seus conflitos internos também é responsável por garantir a solidez narrativa de um filme que, aparentemente, soa despretensioso. O posicionamento ambíguo de Anton é resolvido a partir do momento em que seu mundo parece desabar e, frente à injustiça e à violência cometida às mulheres na África, toma a decisão de consertar seu próprio cotidiano familiar. Não há solução simples: só confrontamos nossos problemas com o choque de sentí-los pesar como um elefante sobre nossas cabeças.


Drummond dizia que o mundo não vale o mundo. Enxergar a solução de nossos conflitos demanda, no mínimo, força de vontade para acreditar que a maioria dos esforços são em vão. Mas, apesar da corrente levar os sonhos para além do nosso alcance, não há mundo melhor que seja impossível. O Oscar na prateleira de Susanne Bier deve dizer, quase como num sussurro, que não há caminhos fáceis, nem para o cinema nem para a vida. Só há tentativa. Pois tentemos; com louvor.

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