Adam Richard Sandler, do alto de seus quase 44 anos, pode, ainda, se considerar um sortudo. Não é de hoje que seus filmes são marcados, primordialmente, pelo desfile de beldades misteriosamente atraídas por seja lá qual for o charme de seus personagens – todos eles, diga-se de passagem, carismáticos e ligeiramente infantis. Esposa de Mentirinha (“Just Go With It”, Eua, 2011) segue à risca a cartilha dos filmes de Sandler: anedotas encavaladas, gags levemente constrangedoras e o velho duelo amadurecimento versus escapismo.
Sandler, dessa vez, é Danny, um cirurgião plástico com pinta de playboy que, após cair em desilusão amorosa no dia de seu casamento, recorre à tática de conquistar as mulheres com uma prerrogativa ímpar: a velha desculpa do casamento infeliz. A história do marido ultrajado e de coração partido alia-se com perfeição estratégica à aliança no dedo – e Danny, assim, foge do clichê do macho agressivo, garantindo sucesso imediato junto às mulheres de Beverly Hills.
E é justamente quando a preciosa aliança não está em cena (ou no dedo) que Danny descobre, sem querer, um motivo para desapegar-se de seu próprio truque: a estonteante Palmer (Brooklin Decker). Mas, como tudo no fabuloso mundo das comédias românticas, nada é de graça. Palmer, naturalmente, descobre a aliança de Danny em meio a suas roupas, e Danny, decidido a conquistar o coração da moça quase 20 anos mais jovem que ele, parte, enfim, para seu último ato como cafajeste: forjar um casamento falido (e à beira do divórcio) com Katherine (Jennifer Aniston), sua belíssima assistente.
Sinopses à parte, “Esposa de Mentirinha” parece querer navegar em mares mais distantes da mera compreensão imediata de uma comédia romântica habitual. O resultado, naturalmente, é um desastre. A tentativa de forçar a barra no discurso vazio entre o amadurecimento e o retardo desesperado à idade não funcionam em momento nenhum – mais, garantem o marasmo ante a lugares-comuns como a questão da cirurgia plástica e do amor que, é claro, parece sempre estar na porta ao lado.
Fica a impressão de que Sandler, mesmo que ainda com toques de sua já comprovada genialidade na hora de interpretar tipos como Danny, parece estar entrando, subitamente, em um momento decisivo de sua carreira. A idade já parece garantir estranheza aos olhos de quem já não relaciona os personagens fanfarrões ao estilo politicamente incorreto de um ator que, mesmo sem jamais ter convencido como galã, parece não convencer mais nem como o bom moço de tiradas espirituosas. Uma pena.
