O circo é um palco itinerante de ilusões, uma válvula de escape da arte que traduz em espetáculo os anseios e os sonhos dos artistas – e, em sua mais pura definição, nada mais é do que uma singela representação da vida, reunindo no picadeiro os mais diversos mundos e as mais inusitadas biografias. Reproduzir a atmosfera de algo tão complexo, portanto, não é tarefa das mais fáceis. E é, sem dúvidas, a maior dificuldade do irregular Água Para Elefantes (Water For Elephants, Eua, 2011), adaptação do best-seller de Sara Gruen que chega agora aos cinemas nacionais.
Eis que Jacob (Robert Pattinson), um promissor estudante de veterinária, perde os pais em um acidente de automóvel às vésperas de completar os estudos e, sem expectativas para a sua vida, sai sem rumo pelo interior dos Estados Unidos em busca de trabalho em uma cidade grande. E é justamente no caminho que Jacob se depara, sem querer, com o Benzini Brothers, um grande circo itinerante comandado por August Rosenbluth (Christoph Waltz), um ambicioso showman sem escrúpulos que coordena o circo à mão de ferro.
Jacob, após alguns testes bastante inusitados promovidos por August, torna-se, então, um tratador de animais do circo, aproximando-se, assim, de Marlena (Reese Whiterspoon), a estrela principal do espetáculo e esposa de August. Jacob, naturalmente, apaixona-se por Marlena, que resgatada por August e sem opções melhores na vida, contenta-se com a ilusão de ser a estrela de um show decadente e sem futuro. E é justamente o amor impossível de Jacob e Marlena que abre as portas pro melodrama barato, estigmatizando qualquer relação de profundidade possível nas duas (longas) horas de duração do filme.
O melodrama, pois, nada mais é do que um recurso narrativo que garante, à sua perfeição, uma identificação imediata com o protagonista da história, geralmente um homem de valores que resgata das profundezas da perdição uma mulher sem expectativas na vida. Francis Lawrence que, após dirigir os blockbusters Constantine e Eu Sou a Lenda comanda a adaptação de Água Para Elefantes, mostra inapetência ao recriar uma atmosfera circense risível e empurrar o clichê goela abaixo sem jamais garantir o crivo do espectador – não há, de fato, motivos suficientes para torcer por Jacob e Marlena.
Desde o inspirador O Circo até o voraz Noites de Circo, o mundo do picadeiro já foi tema de obras-primas na história do cinema. É de se esperar, portanto, que a comparação com as obras de monstros como Chaplin e Bergman seja naturalmente desproporcional. Fica a impressão de que a necessidade de garantir a identificação do público junto ao casal de protagonistas esteja sempre à frente da condução do filme em si, afastando o espectador da eventual garantia de entrar em um universo que, tão abrangente e sensacional como é o do circo, parece escorrer das mãos à medida em que Robert Pattinson nos contempla com suas caretas padronizadas. Uma pena.
