quarta-feira, 20 de abril de 2011

Por Fora da Estrada, Mais Uma Vez

Fábulas, em síntese, são um apanhado de alegorias; metáforas morais que, alinhadas com uma determinada lição – geralmente de educação infantil – funcionam como um artifício fantasioso para construir um universo recheado de códigos de conduta. E em tempos de criatividade exígua, a indústria cinematográfica nos apresenta, com a maior cara-de-pau, a mais nova e terrível adaptação da maior de todas as fábulas: "A Garota da Capa Vermelha" (Red Riding Hood, Eua/Canadá, 2011) estreia nos cinemas nacionais trazendo de carona uma Chapeuzinho Vermelho no limite do ridículo – em embalagem vampiresca(?!) e muito, muito tediosa.


O cenário para o caos e a fome do lobo, dessa vez, é uma vila de lenhadores cercada por uma floresta – e como não poderia ser diferente – aterrorizada por uma besta mística e devoradora de inocentes. Um pacto de décadas, entretanto, protege os habitantes do terror e da voracidade da fera que, é claro, resolve romper o trato. Eis que Valerie (Amanda Seyfried), a mais deslocada e esquisita de todos os habitantes do vilarejo - e naturalmente apaixonada pelo galã do lugar, torna-se o próximo item no cardápio do lobo; até à chegada do caçador de feras de plantão – o multifuncional Padre Solomon (Gary Oldman).


Padre Solomon, é claro, não tarda a apontar suspeitos, determinar medidas de segurança e assustar ainda mais a população. Métodos de tortura, vigilância constante e um apreço por frases feitas também constam no contrato – eis, aqui, um inquisidor medieval de primeira linha. Os olhos de Solomon, naturalmente, tornam-se imediatamente para Valerie que, de potencial vítima, passa a bode expiatório da mente doentia do padre – prato cheio para a clássica indignação seguida de aclamação pública por parte do resto do povoado.


Apostar em remakes e versões de clássicos pode ser bastante indigesto, pois garantir a manutenção da essência da história e ainda ser capaz de trazer algum frescor para a narrativa é tarefa das mais árduas. Que o diga Catherine Hardwicke, a responsável por constranger o mundo do cinema pela segunda vez seguida. E chega a ser engraçado reparar que, após a tragédia que é seu filme anterior, Crepúsculo (2008), Hardwicke ainda tenha a coragem de apelar para a mesma estética, o mesmo desenvolvimento de romance adolescente idiota e a mesma incoerência de linguagem – em filmes completamente diferentes.


Não sobra nada, infelizmente, para dizer de positivo a respeito de “A Garota da Capa Vermelha”. Nem atuações, nem fotografia, nem figurino nem mais nada serve de consolo para um filme estúpido, cafona e sem nenhum propósito de existir. A necessidade de ser diferente sendo absurdamente careta chega, enfim, ao seu ápice. Não me parece possível, agora, que ainda haja alguém capaz de estragar com tanta vontade as histórias legais que a gente se acostumou a ouvir. Deve ser boa notícia. Toda parábola tem seu ponto máximo. Ou mínimo. Veremos.

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