quinta-feira, 21 de abril de 2011

Não é bróder, é mano

Texto escrito por ALICE FERMAN e publicado dentro da sessão “Colunista Convidado”.

Parecia apenas outro roteiro sobre sequestro e favela, mas o filme surpreende. Sem exagerar na dose de palavrões, Bróder (Brasil, 2010), primeiro longa de Jeferson De traz uma direção inusitada e profissional, contando com a participação de importantes atores como Caio Blat (Macú), Silvio Guindane (Pibe) e Jonathan Haagensen (Jaime). Eles estão no papel de três amigos de infância que cresceram na realidade da favela do Capão Redondo, Zona Sul de São Paulo, mas que tiveram suas vidas desdobradas em diferentes realidades. A película é aberta com um belo plano seqüência, que brinca com a iluminação externa e a penumbra, de acordo com os sentimentos e a “dança” de Marco pela comunidade.



Macú já era pai aos vinte e poucos anos, porém o sucesso financeiro parecia distante. Marrento e muito querido pela comunidade, ele soma uma dívida de cinco mil reais com traficantes e acaba num beco sem saída, tendo que ceder às pressões de dois criminosos para raptar uma criança que estudava num bom colégio privado da cidade.


Ao chegar na casa de sua mãe, Dona Sônia (Cássia Kiss), no dia anterior ao sequestro, descobre que estão preparando uma festa surpresa por seu aniversário. Depois de brigar com o padrasto, Seu Francisco (Ailton Graça), vai para um barzinho onde encontra os traficantes a quem deve e tenta explicar que  estava preparado para a recepção do “princepizinho”. Os bandidos estranham a situação e ficam na cola do aniversariante durante toda a festa. Quando o garoto pensa que o clima estava mais calmo, seus “manos” armados mudam o desfecho da história e Macú tem que tomar decisões que mudarão a sua vida e as de todos a sua volta.


A brilhante atuação de Caio Blat eleva o filme para um nível mais dramático enquanto o traficante Napão, interpretado pelo ainda pouco conhecido rapper Du Bronx, não deixa por menos, preparando um terreno a lá “Capitão Nascimento às avessas”, que chama a atenção para discussões já batidas, como criminalidade e desigualdade social, mas que também explicita a questão do racismo no Brasil. Já Cássia Kiss deixa um pouco a desejar, pois não passa muito calor humano, o que deixa a personagem travada e simplória.


De modo geral, a obra possui bons atores e boa estética, que permitem a fluência do filme. O assunto tratado cansa um pouco por já ter sido abordado diversas vezes, mas prende por sua intensidade.

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