quinta-feira, 28 de abril de 2011

Procurando Mogli

Como que num exercício de intuição, às vezes os olhares da arte tornam-se para um tema específico ou, mais até recorrentemente nos últimos tempos, para algum lugar – como é, nos últimos anos, o crescente fascínio exercido pela Índia e por sua cultura. Desde o premiadíssimo Quem Quer Ser um Milionário de Danny Boyle até ao folhetim Caminho das Índias de Glória Perez, a Índia é, sem dúvidas, um dos países da vez. Eis que, apostando na tendência, surge Bollywood Dream – Um Sonho Bollywoodiano (Bollywood Dream, India/Brasil/Eua, 2010), um levantamento documental travestido de ficção que aposta na experiência da ilusão – o sonho do sucesso em uma terra de oportunidades.


À Índia já não basta apenas o Taj Mahal, o budismo e o apimentado curry – é o cinema que dá as cartas por lá e, como consequência da construção de uma indústria cinematográfica relevante no cenário mundial – tão relevante que já é a maior do mundo em número de produções por ano, a terra de Gandhi tornou-se, nos últimos tempos, um ímã para artistas ligados à sétima arte. E é o caso, aqui, de Ana, Sofia e Luna, três atrizes que saem do Brasil à caça de um produtor que promete às meninas papéis em um filme bollywoodiano.


Mais do que óbvia é, portanto, a caminhada penosa através dos rincões de uma Índia que, na tela, soa suja, desorganizada e desinteressante. Banheiros imundos e choque de culturas funcionam como obstáculos imediatos da desastrosa decisão de buscar a independência financeira e a fama em um lugar desconhecido. E é a desilusão que, sem querer, abre as portas para uma nova viagem, que extrapola o sentido inicial das atrizes e cai no clichê insuportável da jornada espiritual.


E é baseada nesse conceito que a diretora, roteirista e produtora Beatriz Seigner discorre sobre o equilíbrio entre autoconhecimento e desprendimento de valores intrínsecos à natureza ocidental. E como experiência cinematográfica, adapta o filme ao próprio dia-a-dia indiano, mergulhando o roteiro em experiências com pessoas comuns – abusando, assim, do lugar-comum que é enxergar a Índia apenas sob um cansativo prisma filosófico e transcendental. E a relação com os cidadãos apenas garante, imediatamente, uma sensação de superficialidade no que diz respeito à inserção de três brasileiras numa cultura de aspectos tão distintos aos quais estavam acostumadas.


À parte a experimentação de Beatriz, que mistura narrativa com documentação, não sobra muito a se dizer de um filme que pretende abrir os olhos para uma tendência de migração de artistas para o outro lado do mundo. A confusão é óbvia: lição cultural vazia, apresentação pífia do que é a indústria cinematográfica de Bollywood e uma frouxidão que incomoda na relação entre as brasileiras. Fora de tom, mas, ainda, um apanhado razoável da solidão que é trabalhar com arte muito longe de casa. Habemus esperança, Beatriz.

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