As comemorações de Natal na minha família sempre foram muito acaloradas. O número pequeno de pessoas era um motivo para que o dia fosse um momento de proximidade e confraternização, já que nosso dia a dia era sempre muito conflitante e com horários descombinados. Lembro que, quando pequena, tinha meus tios e primos aqui e alguns conhecidos de mamãe e vovó. As comidas eram preparadas com quase dois dias de antecedência e a cozinha era território fechado, onde criança estabanada não podia meter o bedelho.
Apesar disso, era um momento voltado especialmente para os pequenos. Eu sabia que os poucos embrulhos debaixo da árvore eram os presentes que os adultos trocavam entre eles. Os meus e dos meu irmão viriam pontualmente à meia noite do dia 24 de dezembro, com o Papai Noel. Com muitas caixas espalhadas pelo corredor ou na varanda, o velhinho sempre chegava, eu não via e terminava a noite com vontade de o ter conhecido. As circunstâncias sempre levavam a uma pista falsa, um barulho no quarto, e, de repente, Noel passava e eu nem via.
Na fase da dúvida, das perguntas, e daquele crítico período de desconfiança, minha mãe me respondeu à clássica pergunta sobre a existência dele. Depois de anos driblando os papais noéis de shopping, as cartinhas na árvore, as aparições rápidas com presentes dentro e fora do saco vermelho, a resposta eu carrego comigo até hoje. “Basta você acreditar, minha filha.” E por mais brega que isso possa soar aos 21 anos, eu levo pra minha vida essas palavras em tudo o que faço. Por mais que nada pareça dar certo, que às vezes esteja indo mal, é preciso sentir que vai dar certo. Precisamos acreditar, principalmente, onde podemos chegar. Até mesmo com a nossa imaginação.
Nesse dia 24, quando estiverem com seus amigos, parentes, familiares, pensem no espírito natalino assim. Ainda dá pra olhar pela janela como uma criança e ver um trenó riscando o céu. Feliz Natal.