sábado, 18 de dezembro de 2010

Papagaio Shakespeariano

"Eu sei, vocês já sabem tudo isso. Mas quem mandou me darem atenção? Nunca, na história da nossa espécie, um papagaio foi ouvido com tanto interesse como neste momento. Sou como aqueles papagaios de pirata que guardam as coordenadas do tesouro que os outros esquecem, meu cérebro vale uma fortuna, desde que permaneça no seu lugar. E que me ouçam. Mas as coordenadas do mapa valioso vêm com digressões, as coordenadas contêm literatura. Agüentem."




Com um papagaio como narrador, Luís Fernando Veríssimo adapta a peça “Noite de Reis” de William Shakespeare para os tempos modernos no livro “A Décima Segunda Noite” (Brasil, 2006, Editora Objetiva). Em vez do Mar Adriático, a narrativa se passa em Paris, onde encontram-se vários imigrantes brasileiros e apesar das pequenas modificações, a trama ainda é sobre a paixão de Orsino por Olívia, de luto pela morte do irmão, e a chegada de Violeta, vestida como o rapaz César para conseguir um trabalho, enquanto seu irmão gêmeo Sebastian está desaparecido. Deu para entender? É complicado, sim, afinal é Shakespeare!

É uma rede muito bem emaranhada de histórias dos personagens mais diversos. O livro não seria o mesmo sem o desorientado (sexualmente) Festinha, piadista do grupo e criador de grandes desavenças, ou sem a Negra, a matriarca dos imigrantes brasileiros. Isso sem mencionar que Veríssimo transformou a ilha Illyria em um salão de cabeleireiro exótico, onde encontra-se nosso narrador, o papagaio Henri.


Interessante e inovador – tanto em termos de narração mas também na forma como Veríssimo adapta a obra – o livro flui impecavelmente. Em meio a citações de Flaubert, Tom Jobim e até John Lennon, o culto papagaio é hilário e dá ao leitor um ótimo feedback da atmosfera da cena e ele mesmo confessa seu amor por uma das personagens. Uma ótima comédia romântica e curto para aqueles preguiçosos demais, “A Décima Segunda Noite” vale muito a pena.



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