domingo, 11 de agosto de 2013

Fora de seu Elemento

Muitas vezes vemos filmes biográficos, ou até baseado em fatos reais, preconizarem a sua veracidade em detrimento à narrativa ou poesia. Esse não é o caso de La Puerta de Hierro, el exílio de Perón (Argentina, 2012). Em sua superfície, pode até parecer que ele fala sobre os anos de exílio do presidente argentino em Madrid. O que o filme faz é pegar essa história para falar sobre o legado que um homem deixa para a sua sobrevida, e com isso aproveita para criticar a situação política da Argentina.

No dia do seu septuagésimo sétimo (77) aniversário, Juan Domingos Perón toma o dia para narrar as suas desventuras políticas em um gravador para sua alfaiate. Sucede um relato de seu exílio desde que o peronismo foi deposto, aproveitando para falar sobre as intrigas internas em sua casa, a nova esposa dondoca, e insurreição à distância. O verdadeiro mérito do filme é conseguir transcender seu gênero para falar de política sem perder o conflito humano de um homem fragilizado pelo tempo e pela perda.

O que realmente nos prende é o conflito interno de Perón, interpretado por Víctor Laplace, que mais parece um Tony Ramos argentino. Fica fácil de sentir empatia por ele: um homem perseguido por seu passado político, indo contra todos no seu desejo de regresso à Argentina, e ainda sofrendo a perda de sua antiga mulher. O mais bonito é a relação que ele constrói com sua alfaiate, uma relação paternal com quem já é pai de uma nação.

Fotografias tendem a passar despercebidas, mas essa merece tomar o palanque. Luz e enquadramento se unem para tornar um filme já bonito belíssimo. As locações, apesar de serem em grande parte uma casa, também possuem variedade. Mise-en-scene também está a par de tudo. O que acontece bastante são metáforas e simbolismos que, apesar de óbvios e meio bregas, conseguem passar a mensagem com clareza.


Dificilmente vemos um filme com tanta poesia, principalmente um que é baseado em fatos reais, e ainda mais um com política como pano de fundo. Não precisa conhecer a história do presidente tem ter inclinação política com ele para entrar na obra, mesmo assim, a maior figura política nela ainda é Evita Perón. Dizem que um homem tem que escrever um livro, ter um filho e plantar uma árvore antes de morrer. Perón fez tudo isso.

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