quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Flores de Chumbo

Repare bem (“Les Yeux de Barcuri” França Itália Brasil, 2013) é uma emotiva viagem por uma sofrida história pelos olhos de quem viveu de perto um dos momentos mais difíceis da América Latina. Uma história muito pesada com depoimentos que prometem emocionar, ou pelo menos abalar, o espectador. Apesar dessa forte carga emocional, em aspectos técnicos o filme deixa a desejar.




Só pelo feito desse ser um filme encomendado pela Anistia Internacional já dá pra ver do que ele se trata. Começa tudo como uma história de amor, a filha de pais militares se apaixona por um guerrilheiro durante os anos de chumbo da nossa ditadura. A moça engravida e o guerrilheiro Bacuri é preso e torturado. Com a perseguição de sua família, Denise Crispim com sua recém nascida filha resolve fugir para o Chile, pouco antes do golpe de Pinochet. As duas fogem para a Itália. Agora, quarenta anos depois, ambas conseguem anistia do Brasil.


“A gente queria fazer um filme sobre as filhas dessa geração. Dai a gente conheceu a Denise e a gente soube que a filha dela nasceu clandestina e ela também nasceu clandestina. Então é uma família toda que nasceu clandestina.” Explica a produtora Ana Petta, sobre a proposta inicial do filme.


Uma das críticas feita à obra é que ela era ser muito oficial, “chapa branca”. Quanto às questões políticas do filme a diretora Maria de Medeiros tem sua opinião bem formada: “Anti chapa branca, porque parte dos afetos. A história de cada um de nos e a história do nosso país. Teve momentos que aquilo era uma choradeira!”. Já a entrevistada, e estrela do doc, Denise Crispim tem uma posição diferente quanto a função do filme: “Eu acho que o filme vai servir para informar a sociedade civil. Pode servir para que comece uma busca por justiça.”

A pessoa que o filme mais afetou com certeza foi Denise Crispim, que se emocionou durante a coletiva de imprensa: “Eu tava botando pra fora coisas que ficaram presas em mim por quase quarenta anos. Foi uma terapia pra mim, mas foi mais do que isso. Porque eu descobri que tinha a obrigação de falar.”


Deu pra ver que o filme é uma barra, acho que não tem nenhum depoimento nele que a pessoa não esteja chorando. Principalmente que o filme é um vai e vem entre mãe e filha. Mesmo com tanta carga e paixão, o filme se beneficiaria de um pouco mais de variedade. Ele é extremamente repetitivo, e o material de suporte pouco faz para manter as coisas novas. El Padre de Gardel falha miseravelmente na hora de chegar ao seu ponto, fazendo isso só no final do filme, mas pelo menos ele consegue nos manter interessados – ou até acordados – até lá.

Espero que esse doc não seja a única vez que essa história seja contada. E não é só uma questão de ritmo da obra. Toda a pesquisa parece que ficou presa a um circulo muito pequeno, sem falar que a fotografia, apesar de direitinha, fica parecendo de um filme velho. Parece que foi uma oportunidade de ouro perdida.

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