

ANA PAULA LAPORT
Antes de qualquer coisa, gostaria de informar que Aurora é a princesa mais bonita da Disney, não tem como discordar. Se bem que com três fadas madrinhas até eu. Fora que a história de A Bela Adormecida (“Sleeping Beauty”, 1959, EUA) é toda romantizada, com “lugares distantes, duelo de espadas, feitiços, um príncipe disfarçado”... Ou seja, uma obra de poeta. No início do filme, o narrador explica o porquê do nome da princesa: “Deram-lhe o nome da luz da manhã, porque a menina veio iluminar-lhes a vida como um raio de sol.” Lindo! Pena que essa parte só foi acrescentada na produção da Disney.
O longa foi lançado em janeiro nos Estados Unidos e um mês depois no Brasil. Mas foi em 1967 que o verdadeiro autor do conto, o francês Charles Perrault, o publicou (aos 70 anos) pela primeira vez, em seu livro “Histórias ou contos do tempo passado com moralidades”. Nessa época ele não imaginava que suas fábulas se tornariam tão famosas a ponto de ainda hoje, mais de três séculos depois, continuarem a ser contadas. Também não era pra menos em uma coletânea que incluía “Chapeuzinho Vermelho”, “O Pequeno Polegar” e “O Gato de Botas”. E foi assim, recontando as histórias antes apenas contadas pelas damas nos salões parisienses, que Charles, vulgo Carlos, se tornou o criador de um novo gênero de literatura: o famoso “conto de fadas”. (Obrigada!)
É claro que houve mudanças do conto para o filme (no original, Aurora tinha sete fadas, por exemplo), mas, como se trata de uma história popular, passada boca a boca até a publicação do Carlitos, o original se torna irrelevante, desde que não se perca a moral. Até porque, se pensarmos bem, todas essas histórias bonitinhas de princesas e príncipes apaixonados são bem medonhas na realidade, mas não vou lembrá-las aqui. O que cabe lembrar é a superprodução do filme para a época: mais de trezentos artistas rabiscando um milhão de desenhos, um dos primeiros longas-metragens em widescreen e sete anos para ficar pronto! Tudo bem que Walt Disney se distraiu um pouco por causa da construção da Disneylândia, mas mesmo assim, foi uma trabalheira. Só as pinturas medievais de fundo levavam, em média, de sete a dez dias para ficarem prontas, cada uma!
A trilha sonora do filme foi gravada na Alemanha, onde ficava o mais moderno e sofisticado equipamento de gravação de som estéreo, e boa parte das músicas é baseada no balé de Tchaikovsky, gravada pela Orquestra Sinfônica de Berlim. A Bela Adormecida foi a 2ª maior bilheteria de 1959, perdendo apenas para Ben-Hur. Com a inflação ajustada, sua arrecadação foi de US$ 478,2 milhões só nos Estados Unidos. Entre todos os príncipes que aparecem nos contos de fadas em longas-metragens animadas da Disney, Felipe é o único que tem o seu nome mencionado durante a história. E é por tudo isso que digo que esse filme se tornou muito mais do que apenas um desenho de contos de fadas.
Curiosidades:
* Na verdade verdadeira, o filme estreou nos cinemas brasileiros antes dos Estados Unidos, em 6 de fevereiro de 1959. Lá, o filme apenas entrou em circuito comercial em 17 de fevereiro;
* A ideia de um príncipe e uma princesa dançando nas nuvens era um dos conceitos preferidos do Walt Disney, que chegou a ser considerado em Branca de Neve e os Sete Anões e Cinderela. Finalmente ele foi usado para o grande final deste filme. Relembre.
* De todos os príncipes encontrados nos contos de fadas em longas-metragens animadas da Disney, o príncipe Felipe é o único que tem o seu nome mencionado no filme.