quinta-feira, 27 de junho de 2013

Estranhamente Familiar


Para entender porque Tarzan (1999, EUA) é tão bom você precisa observar motivos bem antes do filme em si. Na bíblia dos animadores, “The Animators Survival Kit”, o prefácio pelo autor Richard Williams (diretor de Uma Cilada para Roger Rabbit) faz um comentário elogiativo a Mogli, O Menino Lobo. O comentário consiste em elogiar a habilidade da Disney de conseguir capturar os movimentos com perfeição: a cobra rastejava como uma cobra; o tigre gingava como um tigre; e um menino que era um lobo, era um lobo.


Em Tarzan o mesmo conceito é aplicado à décima primeira potência. O realismo dos personagens e a beleza dos cenários fazem deste o filme mais estéticamente impressionante da disney desde o Rei Leão. O balanço do felino está mais redondo que nunca, mas quem realmente rouba a cena é o Tarzan. Você vai acreditar que um homem pode se balançar por cipós e deslizar por troncos. Até a forma com que ele anda normalmente, ou quando tenta andar como os outros humanos, é de um realismo absurdo. Tudo isso porque o nível de detalhes empregado para fazer com que o Rei da Selva seja convencente vai te deixar embasbacado, te leva até a crer na premissa (um pouco absurda, mas perfeitamente plausível) do filme.


A história do Tarzan já foi vivida no cinema basrante vezes, tanto que já é bastante conhecida. Mas o filme da Disney mostra partes não contadas da história como o navio dos pais de Tarzan, ou a melhor casa na árvore do mundo. Tudo isso embalado no embrulho do estúdio com direito a animais fofinhos pra fazer o alívio cômico do filme e uma história pungente sobre família e encontrar o seu lugar no mundo. Quer uma trilha sonora marcante? A Disney chamou Phil Collins. Quanto as músicas, não são pessoalmente do meu gosto. Mesmo assim, a forma com que canções como “Two worlds, one family” e “You’ll be in my heart” ficam na sua cabeça mesmo com anos sem ver o filme são um testamento à sua qualidade.


Claro, são inúmeros filmes da Disney que podemos dizer que são inesquecíveis, mas esse foi o último filme bom do estúdio. Antes dele focar quase que exclusivamente no conteúdo de seu canal e ser conhecida pela música de seus pirralhos medíocres. Pode ser considerado um símbolo máximo da qualidade das produções do estúdio, mas é muito mais que isso. Nunca houve cenas de ação tão boas quanto as desse filme. Até os infantilismos foram podados para abrir espaço para uma narrativa mais madura. Dito todos os elogios que podem ser dito, ele ainda cai no erro do livro de ser etnocêntrico e colonialista. Não é só mais uma adaptação de um grande clássico da literatura, é a forma máxima que esse clássico pode ter no cinema.
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