domingo, 16 de junho de 2013

Uma Orquestra Fantástica



Vocês se lembram da primeira vez que ouviram uma orquestra ao vivo? Eu não lembro, mas até hoje me emociono. Afinal, são tantos sons que compõem um lindo ballet sinfônico, com tantas vozes, agudas e graves, que narram uma história sonora. É a partir desta ideia que Walt Disney combina a magia de uma sinfonia clássica com o fantástico mundo da animação, no filme Fantasia (EUA, 1940).


A Filarmônica da Filadélfia conduz o filme, que começa com a orquestra afinando os instrumentos no palco e cujo maestro introduz a obra como um trabalho de diversos artistas inspirados pela música, de forma a criarem histórias ou imagens abstratas. A partir disto, o espectador entra numa série de segmentos imagéticos, que narram desde a história do mundo com o Big Bang, microorganismos e dinossauros até a história da trilha sonora, que praticamente descreve o que é o som. Todas essas acompanhadas pelas obras primas musicais de Bach, Tchaikovsky e Beethoven, entre outros. Ao final de cada segmento, o maestro retorna para explicar qual é a próxima sinfonia e qual foi o conceito por trás da obra audiovisual, remetendo o espectador a uma experiência ao vivo em um teatro. Essa experiência "ao vivo" também é corroborada pelo fato do filme não ter créditos, sendo considerado o primeiro filme americano a fazer isso.


Para os anos 40, este filme era muito ambicioso, com um orçamento de dois milhões de dólares para um longa de animação. Originalmente, Walt Disney ainda queria lançar uma versão nova com músicas diferentes por ano, o que se provou muito difícil. Com isso, Fantasia é até hoje o filme mais longo de animação da Disney, sendo o primeiro e único a atingir duas horas de duração (o filme tem 124 minutos).


Pessoalmente, tenho dois segmentos favoritos no filme: a "Nutcracker Suite" do Tchaikovsky e a história do "Aprendiz de Feiticeiro". A suíte do Quebra-Nozes ironicamente não traz nenhum elemento do ballet, e consequentemente, não tem nenhum quebra-nozes. A música conduz a mudança das quatro estações, a começar por fadas tocando as flores da primavera e, concluindo, com flocos de neve do inverno. Durante todo o segmento, e na verdade, durante todo o filme, a música com a imagem se utiliza de uma técnica de trilha sonora chamada Mickey Mousing, que se iniciou, é claro, com a Disney. Essa técnica se refere a quando imagem e música se encaixam perfeitamente, como toda vez que as fadas tocam uma flor, esse toque é acompanhado de um agudo na música.


Já "O Aprendiz de Feiticeiro", com a música de Paul Dukas, deve ser o segmento mais famoso do filme, pois foi lançado depois individualmente como um curta-metragem de animação. Curiosamente, esta é a única história criada antes da sinfonia, baseada numa lenda antiga de um aprendiz de feiticeiro que, em sua arrogância, tenta utilizar seus poderes antes de realmente saber como controlá-los. Tratando-se da Disney, esse aprendiz é o Mickey Mouse e o feiticeiro Yen Sid, é inspirado pela figura do próprio Walt e é Disney ao contrário.


Fantasia, e sua sequência "Fantasia 2000", são filmes únicos na história do cinema, e demonstram quão avant-garde era a criatividade de Walt Disney, que até cogitou espalhar fragrâncias pelos cinemas para criar uma experiência maior do espectador durante a projeção, mas como ele queria um perfume para cada segmento, essa ideia foi abandonada. Uma verdadeira obra prima audiovisual e se você ainda não viu, veja, e leve as crianças, porque, como em qualquer bom filme da Disney, elas são muito mais tocadas pela grandiosidade criativa do que o adulto.

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