Não é muito, mas o texto n.º 10 para um novato
como eu tem um Q especial. Hoje escrevo a décima página de um diário pessoal e
aberto para todos. Registro aqui o que vi, filtrei e me apaixonei. Para vocês
abro um pouco do meu mundo fílmico. Estamos agora na Alemanha, o lugar dos
melhores cachorros quentes, lar de uma das capitais mais excitantes da Europa e
claro, de filmes incríveis. Como Chihiro esteve após atravessar um túnel escuro
com seus pais, estamos diante de um lugar desconhecido. Nossa viagem pode não
ser através de um trem cujos trilhos estão submersos e com dragões e bruxas, porém
não menos mágico viajamos pela descoberta de nós mesmos, para as possibilidades
de sorrisos ao lado de fora.
Para começar esse ciclo de cinco críticas, temos
o delicado e intenso Tempestade de Verão
(“Sommersturm”, 2004). Dirigido por Marco Kreuzpaintnere, com roteiro de Thomas
Bahmanne e do próprio diretor. Este filme com uma trilha sonora completamente
pontual e necessária embarca direto para a lista daqueles feitos com o coração.
A temática não é nada original, a qualidade reside nas nuanças, nas delicadas relações construídas ao longo da história. Temos na nossa frente mais um filme sobre “sair do armário”, “assumir-se”, porém esta película abre a porta delicadamente, deixando a luz do lado de fora entrar aos poucos. Colocamos o pé fora do objeto e um mundo novo nos observa como um bebê em seu segundo nascimento.
A temática não é nada original, a qualidade reside nas nuanças, nas delicadas relações construídas ao longo da história. Temos na nossa frente mais um filme sobre “sair do armário”, “assumir-se”, porém esta película abre a porta delicadamente, deixando a luz do lado de fora entrar aos poucos. Colocamos o pé fora do objeto e um mundo novo nos observa como um bebê em seu segundo nascimento.
Tobi (Robert Stadlober) e Achim (Kostja Ullmann) são melhores amigos, populares esportistas e inseparáveis, daqueles que não se imaginam no futuro um sem o outro. Prontos para uma competição de canoagem, partem animados para um acampamento de verão. Tobi é apaixonado pelo amigo e tenta esconder sua paixão, não consegue e se vê com ciúmes da namorada de Achim. As coisas apenas pioram quando um time assumidamente gay de Berlin surge no acampamento colocando mais dúvida ainda no jovem. Enquanto algumas tensões são criadas e o ar de rivalidade entre os times se intensifica a cada momento, Leo (Marlon Kittel) se aproxima do confuso Tobi para oferecer ajuda.
Há uma frase dentro de um diálogo obrigatória
para se destacada: “Quem vive se escondendo, acaba esquecendo quem se é de
verdade”. Com esse mantra em mente, ao longo dos acontecimentos vamos
acompanhando a jornada do protagonista para encontrar a coragem de ser ele
mesmo. Somos conduzidos por belas canções e atuações. A naturalidade do elenco
passa a mensagem do filme de forma delicada e verossímil (se é que isso é
possível em uma ficção). Quase esquecemos se tratar de uma película, parece uma
história contada por um amigo. E como todo bom conto, basta a noite chegar,
para os olhos se acostumarem com a realidade. Chihiro precisou lembrar-se de
seu nome para se libertar da bruxa e salvar seus pais, nós precisamos abraçar
nossa identidade para salvarmos a nós mesmos.