sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Som de tiro na madrugada




Se você se empolgou com Disparos (Brasil, 2012) porque, pelo título, achou que ele oferecia bastante tiros, bem, você foi vítima de propaganda enganosa. Os disparos nesse caso não são de fotografia, enquanto a trama segue um fotógrafo numa das piores noites de sua vida. Paralelamente e subtextualmente, disparos também são os impulsos humanos que também regem as nossas vidas de maneira quase selvagem.



De repente, o filme começa com um atropelamento e o dito fotógrafo está envolvido. Com uma postura um pouco suspeita e uma atitude nada agradável, ele é levado para a delegacia onde as coisas começam a entrar em contexto. Aos poucos, vão brotando histórias complementares que pouco tem a ver com a trama principal mas servem para incrementar a discussão sobre a natureza humana em situações difíceis e, é claro, aumentar a minutagem do longa. A trama tenta se embolar, mas não consegue, por sorte o filme tem uma espinha dorsal forte, que permanece firme até o final.

O que mais incomoda é a sensação de que ainda precisamos ouvir a explosão final. A costura do roteiro nos dá a impressão de que algo ainda estar por vir e quando as luzes se acendem somos deixados na mão. Uma espécie de inversão que se prenuncia mas não se consolida. Isso acaba não ficando no caminho de uma experiência divertida, e ainda podemos desfrutar o filme, ainda que esperando algo que não vem.
Em termos de direção, os disparos são de uma metralhadora, que, felizmente, acerta mais do que erra. Quando tenta discutir a existência humana ele evoca muito de “Crash: No Limite”. Depois acaba tomando um ar mais Sidney Lumet, e ainda flerta um pouco com “Colateral”, em um tema muito parecido com “Blow Up”. Com excessão de “Crash”, todas essas referências se encaixam bem. A maior parte da ação acontece entre quatro paredes e duas pessoas, o que nos faz pensar se esse roteiro não seria melhor aproveitado no teatro. No filão principal observamos dois delegados que abusam do seu poder e merecem destaque especial. As atuações dos dois são as mais fortes, os diálogos são os mais realistas e é fácil afirmar que eles fazem o filme.

Disparos consegue entreter, ainda que nem todas as suas pretensões artísticas tenham sido cumpridas. Ele não traz nada novo, por mais que tente, mas o que consegue faer certo acaba ficando muito bom. O que nos faz desejar que menos tiros fossem dados em lugares mais certeiros. Talvez assim a revelação valesse o filme.

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...