
Impressiona-me o quanto somos regulados por nossa cultura.
Sei que não é primeira vez que menciono tal fato, mas a cada dia corroboram os
fatos para essa inclinação, que não é apenas minha. Não sou filósofo, nem
pretendo ser, do mesmo modo que não me passa por este emaranhado de massa
cinzenta que estudiosos apelidaram de cérebro, a aspiração à psicanálise. No
entanto, digo, pondo a minha conta em risco, que, por experiência própria e
depois de algumas observações que não há a razão, e sim os sentimentos. La película peruana O Leite da Amargura
(“La Teta Asustada”, 2009, Peru), escrita e dirigida por Cláudia Llosa vem ao
encontro do que menciono já há algum tempo.
O filme narra a história de uma jovem que acredita ser
portadora de uma doença adquirida durante a amamentação, “La Teta Asustada”. Trata-se uma doença rara que se acomete a todas
as mulheres que sofrem abusos sexuais. Todo o sofrimento e o medo são
transmitidos pelo leite materno, infectando a criança. Como se não fosse o
bastante, a pobre Fausta deseja enterrar a sua mãe, mas não tem condições
financeiras para isso. Dessa maneira, la directora
leva-nos ao microcosmo quechua (povo
indígena que habita as áreas da região andina) contrapondo-o com a atual sociedade
e seu universo particular.
A cultura, o folclore, as crenças de um povo esquecido e maltratado
em oposição ao pragmatismo e o culto à ciência de nossa sociedade. Fausta é
moça presa no limiar das duas culturas, ora pertencente à uma época anterior a
nossa, ora claudicante por tentar se desvencilhar daquilo que a retrai. Uma
luta árdua entre o medo, as crenças e a realidade.
Um filme com identidade e envolvente sem perder a delicadeza
feminina, que no caso é dada por Cláudia e Magaly. Uma poesia cinematográfica
que dura o tempo exato para nos impressionar.