
Conta a história que, por volta do ano de 1962, o cartunista
argentino Quino foi convidado por Miguel Brascó para trabalhar numa campanha
publicitária de eletrodomésticos. Ela circularia no meio impresso argentino e
seria feita por histórias em quadrinhos. Assim, nasceu os primeiros esboços daquela
que seria a principal personagem dos quadrinhos da América-latina. A campanha
naufragou, mas a personagem não morreu. Algumas adaptações foram feitas e, com
isso, estreava, no jornal Clarín: Mafalda.
A contragosto do próprio Quino, nos primeiros anos da década
de 80 foi realizada uma série de longas e médias dessa menininha “antenada” e
preocupada com as questões políticas e sociais da sociedade moderna. Assim
nasceu O mundo de Mafalda (“El mundo
de Mafalda”, 1981, Argentina), produzido por Daniel Mallo y los dibujos de Jorge Martin. La
animación, que no tiene uma linha cronológica é composta por várias
historietas que, ao final, compõem o universo particular de Mafalda.
Assistimos uma série de questões pertinentes à sociedade
moderna como a posição da mulher numa sociedade machista, o desalinhamento da
educação entre as diferentes parcelas da sociedade, o pensamento acéfalo do
extremismo capitalista, entre outros. Percebemos essa crítica ácida em
discursos como “Como sempre, apenas
coloco um pé na terra e a diversão acaba” ou na fala de Susanita “não sei para que ir a escola, se a única
coisa que quero da vida é casar e ter filhos”. Sem dúvida, Mafalda está tão
ácida e, ao mesmo tempo, tão crua com os seus “por quês” sobre os aspectos
culturais que a abraçaram, quanto nas tirinhas de Quino.
É um filme bem interessante, apesar das histórias não terem
um laço cronológico. Mas o que vale aqui são os pensamentos e as questões levantas
por Mafalda e seus amigos. Manolito e seu simbolismo do imperialismo burguês.
Susanita e seu egocentrismo... O Mundo de
Mafalda é um exercício de civilidade.