Como se esquecessem do final trágico do clássico de Shakespeare, Roméo e Juliette levam à frente seu romance iniciado numa festa. Talvez estivessem fadados a ser um casal, já que a primeira troca de olhares antecedeu as apresentações, mas nem o fantasma da coincidência dos nomes seria capaz de preparar os jovens pais para a notícia que os levaria à depressão. Dirigido e protagonizado por Valérie Donzelli, A Guerra Está Declarada (“La Guerre Est Declarée”, França, 2011) é autobiográfico. Saturado de cores e de sons, ele se afasta do senso comum de elegância e contenção diante da dor.
Ninguém melhor que a própria Valérie Donzelli para o papel de Juliette e que seu marido, Jérémie Elkaïm, para o de Roméo. Além de economizar com casting, a escolha agregou valor ao filme, cujo propósito é claro: capturar a atenção do espectador e emocioná-lo, sem necessariamente conduzi-lo a reflexões. Tanto o visual kitsch quanto a trilha sonora aparentemente visceral sublinham e exteriorizam o íntimo dos personagens, numa narrativa que alterna momentos de relaxamento e extrema tensão.Assim, pendulando entre neon e cores sóbrias, é contada a história de Roméo e Juliette no ano em que os EUA declararam guerra ao Iraque (2003), mas o jovem casal se preocupa com outra guerra: a do seu filho de pouco mais de um ano contra um câncer cerebral. O filme não é estruturado, no entanto, em torno de um suspense quanto à sobrevivência do bebê, e sim com o objetivo de documentar a tensão dos pais e sua luta pelo amor que começou em tons de clássico shakespeariano.
O filho do casal aos oito anos de idade é interpretado pelo filho real de Valérie, e o sobrenome da família da ficção (Benaïm) é bem parecido ao da família real (Elkaïm). O uso de tantos elementos reais compensa a falta de realismo da narrativa, como na cena em que Juliette descobre a doença do filho: cair aos prantos diante do médico soou normal demais para entrar no roteiro, então Valérie e Jérémie, que, para variar, assinam juntos o roteiro, optaram por fazer Juliette cair desmaiada depois de correr pelos corredores do hospital.
Não falta aos primeiros minutos de filme nenhum dos clichês hollywoodianos usados para tratar de saudade e dor, como lágrimas e risos embalados por uma música triste, mas A Guerra Está Declarada não chega a ser de todo melodramático. Em vez de recair num pensamento egocêntrico pós-traumático, esse filme “de família” conta como a angústia pode ser superada com o auxílio de humor e de coragem.
