sábado, 21 de janeiro de 2012

Um Filme de Takes Roubados

O publicitário Afonso Poyart não contém a risadinha sarcástica ao contar que Dois Coelhos, sua estreia nas salas de cinema, está registrado na Ancine como um filme de baixo orçamento; a decisão pelo gênero de ação e seus insights típicos de publicitário o fizeram estourar a verba inicial, atingindo R$ 4 milhões. Após o ritmo intenso de improvisos, experimentos e takes roubados dos atores, a equipe conta como foram os 3 anos de produção do filme – tendo sido metade do tempo dedicado apenas aos efeitos especiais.

Foto: Pedro Henrique Barros | © LixeiraDourada 2012 

Para ler a crítica do filme, clique aqui.

Em meio às piadas e risadas da equipe, o ator e rapper Thogun resumiu a discussão que rola há algum tempo pelas redes sociais e editorias de cultura: "Cara, tu tá inaugurando uma linguagem. Se vira, parceiro", disse ele, que interpreta o traficante Bolinha, ao diretor.

O público se surpreendeu quando, há seis meses, soube da promessa de um filme de ação filmado nas ruas movimentadas de São Paulo. Afonso havia publicado o trailer do filme no seu perfil do facebook como estratégia de divulgação.

Foto: Pedro Henrique Barros | © LixeiraDourada 2012
– Nós escolhemos as redes sociais como ferramenta, e conseguimos 120 milhões de impressões sobre o filme. Sei lá o que isso significa direito, mas é muito bom. Outros filmes que estão sendo lançados junto com a gente, como Tintim e Sherlock Holmes, não seguiram essa estratégia – conta o diretor e roteirista.

Enquanto ainda escrevia o roteiro, para não se perder em ideias, Afonso tinha um fluxograma colado na parede, que lhe ajudava a fazer as conexões entre as várias histórias interligadas da narrativa. Quando fazia isso, no entanto, não tinha ideia de quanto trabalho lhe custaria a decisão de tomar um caminho inovador para produções nacionais. A inexperiência com cinema e o pioneirismo do gênero no Brasil fez com que o tempo de produção ficasse curto demais:

– Não imaginamos que precisaríamos de tanto tempo pra fazer um filme de ação. A coreografia é muito difícil, leva tempo. Em filmes norte-americanos os caras fecham uma rua inteira. A prefeitura nos ajudou bastante, mas tem limite pra isso, né. Fechar o trânsito de São Paulo? É praticamente inviável, mas fizemos muita coisa no improviso. Para uma das cenas nós tínhamos só um pedacinho de uma das faixas da avenida. Incendiamos o carro ali mesmo, com a outra metade do fluxo acontecendo.

O ator Neco Villa Lobos (no filme, o advogado de corruptos), que já trabalhou com Afonso como preparador de elenco publicitário, conta como a cumplicidade de toda a equipe ajudou o trabalho sob pressão a fluir:

– O mais legal no trabalho do Afonso é que ele não quer atores atuando, falando o texto vírgula por vírgula. Ele quer atores “rebeldes”, que venham com a sua própria leitura do texto e tenham o que acrescentar à história. Não importava se o set não estivesse completamente pronto, na hora em que ele percebia que o ator estava quente, mandava rodar o filme. E, vou te dizer, esses eram os melhores takes, os roubados do ator.

Thogun acrescenta:

– A gente entendia a ação da cena e partia pra ela. Não tinha nada de “deixa eu fazer de novo, pra ficar melhor?”. Meu irmão, tu já fez e ficou ótimo.

Foto: Pedro Henrique Barros | © LixeiraDourada 2012

Curiosidades:
  1. Os atores Fernando Alves Pinto e Caco Ciocler, acostumados às brincadeiras de criança e ao teatro, demoraram a se acostumar às cenas de ação. Resultado: vários takes perdidos porque eles faziam o barulho das armas com a boca e atuavam e câmera lenta quando isto seria deixado para a pós-produção.
  2. Não foram usados efeitos especiais na cena em que a personagem da Alessandra Negrini explode o carro.

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