sábado, 14 de janeiro de 2012

Idiotas Por Opção



Dando continuidade ao ciclo Dinamarca, eis o intrigante Os Idiotas ("Idioterne", de 1998) de Lars Von Trier. Se a estética do Dogma 95 lhe incomoda um pouco, por favor, tente ignorar para poder apreciar ao máximo e sem preconceitos esse filme. As atuações tão verossímeis, a direção e edição “naturais” tornam a experiência de vê-lo como a de assistir a um interessante documentário.


Somos convencionados a tantas coisas, como comer salgado antes do doce, parar dentro de frente para porta em um elevador cheio de pessoas, que nos esquecemos de questionar tudo isso. Não precisamos, talvez, dedicar todo nosso tempo a análise de cada traço cultural, mas algumas pessoas se tornam tão robotizadas que é possível jurar a existência em massa de andróides. Levar este questionamento ao empírico é “intenção” deste filme.


Karen (Bodil Jørgensen) é a nova personagem a se juntar ao grupo de intelectuais que mantém uma resistência a sociedade agindo como idiotas. Ela é o ponto de vista do espectador. Através de seus olhos e falas, vamos mergulhando e nadando nessa vertente anarquista. Literalmente puxada pela mão, ela é convidada conhecer a comunidade Os Idiotas guiada por Stoffer (Jens Albinus). “Para que adianta uma sociedade mais rica se não está deixando ninguém mais feliz?” e “Ser um idiota é um luxo, mas também um passo a frente. Os idiotas são o povo do futuro” São frases bombardeadas à mente da humilde e inocente Karen, seu olhar é vago enquanto seu pensamento é rápido “Mas há gente realmente doente. É triste para aqueles que não conseguem ser como nós.”. Ela, assim como quem assiste, só quer entender esse mundo. É como Harry Potter entrando pela primeira vez no Beco Diagonal ou Dorothy no Mundo das Esmeraldas. Somos virgens nessa nova possibilidade de ver as coisas.


Paranóia. O nome dado no filme quando o idiota interior se liberta. O estado de rebeldia dos sentidos e rejeição das normas. Quase como se o sistema nervoso se rompesse da razão. Somos levados a pensar nas probabilidades e se realmente é possível viver de tal maneira. Dá vontade de sair engatinhando pela casa e derrubando cadeiras, só para sentir como é fazer algo só por fazer.


Eu fico aqui perdido, pensando e escrevendo, filmes de entretenimento servem para esquecer nossa realidade e sonhar com outra. E películas como essa? Gostando ou não de filmes assim, creio na função de tocar, atingir a pele como um beijo ou um soco. Deixando diferentes marcas em cada um nós. Sejamos como a Karen, Harry ou Dorothy, basta existir para enxergar e sentir. 
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