quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Moscow in Flames

Eis o inovador insight: por que não juntar, num mesmo filme, todos os elementos característicos de um exemplar da ficção científica? Comece com dois jovens americanos viajando para um país distante, incorpore uma decepção inicial em suas jornadas para apimentar seus personagens e misture tudo com uma dose cavalar de inimigos invisíveis baseados numa concepção esdrúxula e sem sentido de seus propósitos e, voilà: temos em primeira mão um dos lançamentos mais toscos da temporada, o vergonhoso A Hora da Escuridão ("The Darkest Hour", EUA, 2011), que estreia essa semana no Brasil com o objetivo de não trazer absolutamente nada para o público. E em 3D, é claro. 


O pretexto: Sean (Emile Hirsch, o Speed Racer) e Ben (Max Minghella) saem dos Estados Unidos para Moscou com a intenção de vender uma rede social de entretenimento (aka um guia de noitadas efervescentes das principais cidades do mundo) e, como não poderia ser diferente, são enganados pelo “contato” sueco que faria a negociação com o grupo interessado no projeto. Deprimidos pela traição, Ben e Sean resolvem afogar as mágoas na boite do momento da capital russa – e, para manter a história no clichê incômodo, topam com (surpresa!) uma americana rebelde e com o canalha sueco. Prato cheio. 


O ensejo: papo vai, papo vem e a americana e sua amiga inglesa já estão manifestando um interesse nos dois brilhantes jovens americanos. O sueco do mal já deu sua amostra de arrogância para irritar ainda mais o dia e a vodka já tomou parte na história. Mas cruzar o planeta de avião é importante o suficiente para que apenas um dia ruim nos negócios não seja o ponto alto da história. Falta algo: luzes caindo em toda a cidade, chuva de pontos luminosos caindo perigosamente e a sua consequência mais maligna: um grupo de alienígenas invisíveis protegidos por campos de força de microondas e que pretendem reduzir a cinzas toda a população terrestre. 


Os responsáveis: uma ficção científica respeitável necessita de uma produção confiável e de profissionais com capacidade de executar a árdua tarefa de transpor para as telas uma ideia potencialmente ridícula. Logo, percebe-se na escalação roteiristas do terceiro escalão de Hollywood com projetos fracassados nas costas, um diretor praticamente de primeira viagem e sem muita noção do seu papel e produtores com dinheiro e coragem para bancar um dos piores filmes da temporada. Não se esqueçam, entretanto, do produtor estrangeiro que faz tudo se tornar realidade. E se é Moscou, é Timur Bekmambetov, responsável direta ou indiretamente por todo e qualquer filme russo de caráter duvidoso (e que foi pros Estados Unidos dirigir O Procurado - "Wanted",  EUA, 2008 – o pior filme de Angelina Jolie). 


Nada mais falta para a salada. Aceite que o Speed Racer pode também salvar o mundo do extermínio, deixe-o flertar com a bonitinha do pedaço, deixe russos coadjuvantes participarem do filme em papéis constrangedores e ofereça para o público a oportunidade de assistir a um filme que ainda dá abertura para sequências nos próximos anos. Esperamos, pelo bem do cinema, da economia e do bom senso que a bilheteria fracasse, os produtores se recolham e esse exemplar pífio de um dos gêneros mais legais do cinema morra na praia. Ou que se transforme em cinzas. Whatever works.

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