sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

"Na hora da sede você pensa em mim..."

Com muito boa intenção mas algumas pitadas de lambança, o drama A Fonte das Mulheres (“La Source des Femmes”, 2011. Bélgica, Itália e França), de Radu Mihaileanu, aposta em uma revolução feminista infiltrada numa aldeia islâmica para provocar.


A história faz uma referência explícita aos contos de "As Mil e Uma Noites", explorando o relacionamento afetivo e social sobre paradigmas da cultura árabe, além de contar com traços clássicos de comédia grega. Deparamos-nos com uma sociedade simples, pobre e seca, que sofre um dilema há muito conhecido pela maioria das comunidades: machismo e submissão feminina. O assunto é abordado sobre a metáfora do recolhimento de água para a aldeia. Apenas as mulheres têm a obrigação de caminhar até a fonte para levar o líquido ao povoado enquanto os homens, desempregados, nada fazem.


A trama ganha corpo quando o grupo decide começar uma “greve de sexo” até que os maridões ajudem no trabalho. Pensamentos como de igualdade e liberdade passam a mover as mulheres, que são lideradas por Leila, uma jovem forasteira que sabe ler e escrever, tem ideias inovadores e luta por seus ideais (salvadora da pátria clássica). Por mais torturante que possa parecer, os homens resistem e seguem incrivelmente relaxados, sendo por muitas vezes cruéis com suas parceiras, abusando da força bruta para manterem-se no comodismo. Nesse momento, os canticos passam a ser uma arma de união entre as novíssimas feministas.


O diretor procura fazer poesia com os contrastes da trama, explorando o Alcorão e exaltando o feminino. A história perde pontos na medida em tenta por tropeços unir atualidade e tradição. Além disso, a mistura de poesia e denúncia nem sempre consegue ser efetiva. As personagens parecem demasiadamente superficiais em diversos momentos e o filme não consegue manter um rítimo, sobretudo diante de seus riscos musciais. O tão inspirado no clássico, por vezes cai no banal. Apesar disso, a mistura entre cultura indígena e ocidental, assim como a trilha folclórica dão um quê de exotismo, moldando a história como uma fábula recortada do real. A proposta é muito bem definida, mas colocada de forma seca e bruta, fazendo cansar rápido e convercer pouco. Talvez falte sabor e levesa para tornar a poesia sensível e ritmada no contexto.


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