
O tempo pode correr tão rápido. Tudo passa em uma velocidade capaz de cortar a nossa pele com o vento. O tempo pode ser mais cruel que qualquer ser humano em sua imaginação, já devorou mais filhos que o Titã Cronos e já deixou mais mulheres de coração partido que qualquer Casablanca. Ainda assim, esse mesmo tempo, fracionário e eterno deu a humanidade a arte que ela precisava: o cinema. A Sétima delas. Fascinando os olhos do homem que faz e do que assiste. Assim como os meus olhos, daquele que sobre ela escreve.
Barbara (Barbara, 2012,
Alemanha) pode não ter entrado na lista como finalista ao Oscar de melhor
película estrangeira, mas certamente na modesta vida daquele que vos escreve. O
filme escolhido pela Alemanha para disputar uma vaga no Academy Awards é
intenso como A Vida dos Outros (2006, Alemanha) e cativante como Um Amigo Meu
(2006, Alemanha).
O roteiro desabrocha
como um livro. É quase como se devorássemos avidamente cada página por uma nova
informação. Tudo se desdobra aos poucos. O filme desconfia de nós, ele é
misterioso e cauteloso ao mostrar calmamente aquele universo. Somos suspeitos de
corpo fechado, e a película ainda não confia em nós.
Barbara é uma médica
banida para um pequeno hospital no interior da Alemanha Oriental em 1980. Inicialmente
somos apresentados à ela (Nina Hoss) por uma fala de um personagem: “Ela nunca
chega um minuto adiantada”, dirigindo-se ao Dr. André (Ronald Zehrfeld) após
ser indagado por que ela desce do ônibus e fica esperando no banco em frente ao
hospital antes de entrar.
O filme prova, embora
não seja sua intenção, como a dureza alemã pode esconder enormes corações.-
Barbara é uma heroína sem saber, dessas egoístas que quase não gostamos. O que
fica, além do maravilhoso diálogo entre Barbara e Andre sobre o quadro de
Rembrandt “A Lição de Anatomia do Dr. Tulp”, é a confirmação que acabamos de
assistir a um filme exemplar. Digno de abrir essa nova fase da coluna EuroCine
e de me inspirar a voltar a escrever sobre a arte que o tempo criou.