terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Inquietas Sombras




Em 78 minutos, o diretor uruguaio Gustavo Hernandéz nos apresenta uma requintada saída para a problemática dos jovens cineastas: o baixo orçamento. Com apenas 8 mil dólares, La Casa Muda (“A Casa”, 2010, Uruguai) conquistou o respeito de inúmeros jurados dos festivais por onde passou, como o Festival de Cannes.


O filme é baseado numa história real ocorrida num pequeno povoado do Uruguai, nos anos 40. Laura (Florencia Colucci) e seu pai, Wilson (Gustavo Alonso), se hospedam na casa de campo de Néstor (Abel Tripaldi) para darem início a reforma do casarão. Tudo corre bem, até o momento em que Laura começa a escutar ruídos na casa escura e vazia. A partir daí, um eletrizante thriller.


Temos a impressão de que o longa é todo construído por um único plano-sequência, mas, assim como Hitchcock em Festim Diabólico, o diretor de fotografia Pedro Luque usou a artimanha dos ambientes escuros para fazer seus cortes. Além disso, a iluminação, construída basicamente pela lanterna de Laura, deu o tom de suspense ao filme. Outro ponto que merece destaque são os POVs (Point of View, quando a câmera assumi o olhar do personagem) e como eles se inserem na trama. Foram 8 mil dólares de orçamento, quatro dias de produção e uma câmera digital Canon 5D Mark II. Com todas as dificuldades, fica a pergunta: quanto é preciso para produzir um filme?


No entanto, La Casa Muda é mais do que um simples filme de terror. Ele fala sobre a inocência perdida e a busca pelo equilíbrio. Damo-nos conta de que Laura entra num processo de reflexão e caça as inquietas sombras do passado. Os ruídos produzidos pela casa podem ser a extensão de seus pensamentos conturbados.


A repercussão positiva do trabalho de Gustavo Hernandéz acompanha o desafio de trabalhar com baixo recurso. Seu filme tem orçamento abaixo dos curtas-metragens universitários, no entanto, o produto final ficou com grande qualidade.

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