Em 78 minutos, o diretor uruguaio Gustavo Hernandéz nos
apresenta uma requintada saída para a problemática dos jovens cineastas: o
baixo orçamento. Com apenas 8 mil dólares, La
Casa Muda (“A Casa”, 2010, Uruguai) conquistou o respeito de inúmeros
jurados dos festivais por onde passou, como o Festival de Cannes.
O filme é baseado numa história real ocorrida num pequeno povoado do Uruguai,
nos anos 40. Laura (Florencia Colucci) e seu pai, Wilson (Gustavo Alonso), se
hospedam na casa de campo de Néstor (Abel Tripaldi) para darem início a reforma
do casarão. Tudo corre bem, até o momento em que Laura começa a escutar ruídos
na casa escura e vazia. A partir daí, um eletrizante thriller.
Temos a impressão de que o longa é todo construído por um
único plano-sequência, mas, assim como
Hitchcock em Festim Diabólico, o
diretor de fotografia Pedro Luque usou a artimanha dos ambientes escuros para
fazer seus cortes. Além disso, a iluminação, construída basicamente pela
lanterna de Laura, deu o tom de suspense ao filme. Outro ponto que merece
destaque são os POVs (Point of View, quando a câmera assumi o olhar do
personagem) e como eles se inserem na trama. Foram 8 mil dólares de orçamento,
quatro dias de produção e uma câmera digital Canon 5D Mark II. Com todas as
dificuldades, fica a pergunta: quanto é preciso para produzir um filme?
No entanto, La Casa Muda é mais do
que um simples filme de terror. Ele fala sobre a inocência perdida e a busca
pelo equilíbrio. Damo-nos conta de que Laura entra num processo de reflexão e
caça as inquietas sombras do passado. Os ruídos produzidos pela casa podem ser
a extensão de seus pensamentos conturbados.
A repercussão positiva do trabalho de Gustavo Hernandéz
acompanha o desafio de trabalhar com baixo recurso. Seu filme tem orçamento
abaixo dos curtas-metragens universitários, no entanto, o produto final ficou
com grande qualidade.