
A ausência
pode causar tanto ou mais dano do que um factual tapa na cara. Somos obrigados
a sentir na pele a ausência, aquilo que nos falta e nos faz falta. Como se nada
existisse sem “aquilo” em questão. Vemos-nos perdidos na realidade, procurando “substituições”
e condutores onde podemos transferir nossos afetos. Sem nos darmos conta, transformamos-nos
aos poucos em uma ave que caiu do ninho e ainda não sabe voar.
Kauwboy (Kauwboy, 2012, Holanda) nos engana com seu
nome, esqueça qualquer tipo de faroeste ou bang
bang. Muitíssimo pelo contrário. O nome se deve ao som feito pelo adorável
Jojo (Rick Lens) para “forçar” sua recém-nascida gralha de estimação a abrir o
bico e comer: kauw.
Se muitos
se encantaram com a atuação da pequena – com nome impronunciável para mim- Quvenzhané Wallis (Beasts of the Southern
Wild, 2012, EUA), outros muitos irão se apaixonar pelo convincente ator mirim
que interpreta o imperativo Jojo. Uma criança atlética e curiosa com a vida,
com um violento pai e uma mãe ausente.
Jojo
encontra finalmente uma válvula de escape para os problemas: uma gralha. Ele depara
com o animal caído no chão abaixo do seu ninho, tenta colocá-lo de volta e por
não conseguir resolve criar o animal escondido do pai (Loek Peters), um homem
amargo e ríspido. Ronald acredita que plantas e animais pertencem ao exterior,
e por isso Jojo passa a criar a gralha em segredo.
O filme nos
reporta ao nosso despertar da consciência. Uma época provável quando dizemos “desde
que me entendo por gente”. Estamos deixando de ser aquele meninos ou menina
selvagem, estamos começando a ser domesticados, e entender a vida através dos
socos no estômago. Kauwboy até seria
um filme mensagem e metafórico se a profundidade da descoberta da morte e do
amor não fossem tão profundos e belamente tratados. Uma excelente película para
representar a Holanda no Academy Awards.