sábado, 12 de janeiro de 2013

O Menino e a Gralha



A ausência pode causar tanto ou mais dano do que um factual tapa na cara. Somos obrigados a sentir na pele a ausência, aquilo que nos falta e nos faz falta. Como se nada existisse sem “aquilo” em questão. Vemos-nos perdidos na realidade, procurando “substituições” e condutores onde podemos transferir nossos afetos. Sem nos darmos conta, transformamos-nos aos poucos em uma ave que caiu do ninho e ainda não sabe voar.


Kauwboy (Kauwboy, 2012, Holanda) nos engana com seu nome, esqueça qualquer tipo de faroeste ou bang bang. Muitíssimo pelo contrário. O nome se deve ao som feito pelo adorável Jojo (Rick Lens) para “forçar” sua recém-nascida gralha de estimação a abrir o bico e comer: kauw.


Se muitos se encantaram com a atuação da pequena – com nome impronunciável para mim-  Quvenzhané Wallis (Beasts of the Southern Wild, 2012, EUA), outros muitos irão se apaixonar pelo convincente ator mirim que interpreta o imperativo Jojo. Uma criança atlética e curiosa com a vida, com um violento pai e uma mãe ausente.


Jojo encontra finalmente uma válvula de escape para os problemas: uma gralha. Ele depara com o animal caído no chão abaixo do seu ninho, tenta colocá-lo de volta e por não conseguir resolve criar o animal escondido do pai (Loek Peters), um homem amargo e ríspido. Ronald acredita que plantas e animais pertencem ao exterior, e por isso Jojo passa a criar a gralha em segredo.


O filme nos reporta ao nosso despertar da consciência. Uma época provável quando dizemos “desde que me entendo por gente”. Estamos deixando de ser aquele meninos ou menina selvagem, estamos começando a ser domesticados, e entender a vida através dos socos no estômago. Kauwboy até seria um filme mensagem e metafórico se a profundidade da descoberta da morte e do amor não fossem tão profundos e belamente tratados. Uma excelente película para representar a Holanda no Academy Awards
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