segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Amor Expresso no Silêncio dos Olhares



Imagina se você voltasse de viagem e todos os objetos anteriormente quebrados voltassem a funcionar como num “passe de mágica”? E se descobrisse que alguém esteve na casa quando você estava ausente e não roubou nada? Estranho? Pois é este o tema que A Casa Vazia (Bin-Jip, Coréia do Sul 2004) propõe.  Com um roteiro espetacular e uma direção fantástica, este é um dos melhores filmes do conceituado cineasta Kim Ki-Duk.


Sun-hwa é um jovem errante que invade casas de estranhos e mora nelas enquanto os donos estão fora. Ele paga a "hospitalidade" fazendo limpeza ou pequenos consertos nas casas. Mas essa rotina muda quando ele ataca a mansão de Min-gyu. O magnata está viajando, mas sua bela esposa, Tae-suk, não. Pela primeira vez em muito tempo, ele se depara com alguém com quem compartilha algo: ela também procura escapar da vida que leva. A fim de escapar do casamento infeliz e a vida vazia, ela se une ao novo amigo e, sem trocar palavras, a dupla passa a invadir outras casas.


Kim Ki-Duk é reconhecido pelo seu experimentalismo, e com este longa metragem não foi diferente.  Ele é praticamente mudo, contando apenas com efeitos sonoros e algumas músicas de fundo para a ambientação. O espectador terá de observar e analisar as cenas, pois elas não são auto-explicativas e há muitos momentos com múltiplas interpretações.  


Os protagonistas são carismáticos, sem precisar emitir nenhuma frase (literalmente) para simpatizarmos com ambos.  Eles são os únicos que farão o espectador sorrir, seja numa cena de dança, ou na hora de concertar um objeto, e até num simples carinho. O longa metragem consegue transmitir intensidade aos sentimentos do espectador até nos momentos banais. Outro aspecto que demonstra a genialidade de Kim Ki-Duk é conseguir que o espectador fique “preso” ao filme, e não se distraia em nenhuma cena, sem precisar recorrer a grandes efeitos cinematográficos.


A Casa Vazia é uma poesia em forma de filme. O mais curioso é que ele foi produzido em menos de dois meses. O roteiro foi escrito em 30 dias, as filmagens em 16, e a edição em 10.  Paradoxalmente ele é perfeccionista, não tendo uma única cena que possa ser retirada para a compreensão da trama, e todos os pontos técnicos são muito bem trabalhados. O longa é extremamente recomendável para os amantes do chamado “cinema arte”, mas os que gostam de tudo mastigado e de fácil compreensão devem passar bem longe.
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