
Imagina se você voltasse de viagem e todos os objetos
anteriormente quebrados voltassem a funcionar como num “passe de mágica”? E se descobrisse
que alguém esteve na casa quando você estava ausente e não roubou nada?
Estranho? Pois é este o tema que A Casa Vazia (Bin-Jip, Coréia do Sul 2004)
propõe. Com um roteiro espetacular e uma
direção fantástica, este é um dos melhores filmes do conceituado cineasta Kim Ki-Duk.
Sun-hwa é um jovem errante que invade casas de estranhos
e mora nelas enquanto os donos estão fora. Ele paga a "hospitalidade"
fazendo limpeza ou pequenos consertos nas casas. Mas essa rotina muda quando
ele ataca a mansão de Min-gyu. O magnata está viajando, mas sua bela esposa,
Tae-suk, não. Pela primeira vez em muito tempo, ele se depara com alguém com
quem compartilha algo: ela também procura escapar da vida que leva. A fim de
escapar do casamento infeliz e a vida vazia, ela se une ao novo amigo e, sem trocar
palavras, a dupla passa a invadir outras casas.
Kim Ki-Duk é reconhecido pelo seu experimentalismo, e com
este longa metragem não foi diferente. Ele é praticamente mudo, contando apenas com
efeitos sonoros e algumas músicas de fundo para a ambientação. O espectador
terá de observar e analisar as cenas, pois elas não são auto-explicativas e há muitos momentos com múltiplas interpretações.
Os protagonistas são carismáticos, sem precisar emitir nenhuma
frase (literalmente) para simpatizarmos com ambos. Eles são os únicos que farão o espectador
sorrir, seja numa cena de dança, ou na hora de concertar um objeto, e até num
simples carinho. O longa metragem consegue transmitir intensidade aos
sentimentos do espectador até nos momentos banais. Outro aspecto que
demonstra a genialidade de Kim Ki-Duk é conseguir que o espectador fique “preso”
ao filme, e não se distraia em nenhuma cena, sem precisar recorrer a grandes efeitos
cinematográficos.
A Casa Vazia é uma poesia em forma de filme. O mais
curioso é que ele foi produzido em menos de dois meses. O roteiro foi escrito
em 30 dias, as filmagens em 16, e a edição em 10. Paradoxalmente ele é perfeccionista, não tendo
uma única cena que possa ser retirada para a compreensão da trama, e todos os
pontos técnicos são muito bem trabalhados. O longa é extremamente recomendável para
os amantes do chamado “cinema arte”, mas os que gostam de tudo mastigado e de fácil compreensão devem passar bem longe.