quinta-feira, 29 de setembro de 2011

E cansa mesmo, viu?

Se existe uma coisa com que todos os seres humanos podem concordar é que Trabalhar Cansa (2011). Mas trabalhar nunca foi tão assustadoramente complexo como no primeiro longa de Juliana Rojas e Marco Dutra. A dupla se aventura em explorar o mundo empregatício através de três histórias paralelas. Embora aparentemente a ambição de se formular um tratado sobre esse universo tenha sido preservada, o filme falha em nos inserir nele.


A história do filme gira em torno de uma família que possui diferentes conflitos, todos girando em torno de trabalho: a empregada com um emprego sem registro, o marido tendo que enfrentar o fantasma do desemprego, e Helena, uma mulher de seus quarenta tantos anos que está começando seu próprio negócio com um mercadinho. O filme começa equilibrando os três protagonistas, mas o foco é claramente na história da Helena.


O roteiro faz um bom trabalho como “guião”, mas infelizmente o problema é a história. Ela é extremamente monótona, e por melhor construída que esteja não consegue emergir para além das expectativas. No final, o que impera é aquela clássica imanência de movimento, que é até bem trabalhada ao longo da obra. Porém, o que realmente acaba com o filme é o seu tema “Trabalho”. É simplesmente não interessante, principalmente quando despido de todas as reflexões laterais dele. Pode ser um caso de “pegar ou largar”, mas a maneira de tratar o tema é extremamente crua.


O que não é de se dizer que a decupagem não pode tirar proveito dessa escasses. A direção faz caber a falta de sustância com uma montagem bastante seca e honesta. Ela também faz um excelente trabalho de nos prender a atenção considerando o tão pouco que acontece. A atmosfera do filme também consegue um feito que poucos filmes conseguem: um tom de tensão psicológica que beira ao expressionismo. Em muitos momentos você vai se perguntar se não está vendo um filme de terror, mas isso tudo é à serviço de um discurso da animalização humana no universo proletariado.


Muita gente vai ao cinema pra esquecer as preocupações. Se esse for seu caso, você só vai pensar em trabalho. Agora, se você não quiser uma folga e preferir encarar de frente um filme experimental, mãos a obra. O único problema é que a recompensa por esse esforço pode se apresentar insatisfatória.

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