quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Beleza Relativa

Depois dos grandes trabalhos realizados em parceria com o roteirista Guillermo Arriaga, o diretor mexicano Alejandro González Iñárritu está novamente no circuito para comprovar suas habilidades como cineasta. Se a famosa “trilogia” da dupla (Amores Brutos, 21 Gramas e Babel) prezou por uma estrutura, na época, inovadora, como um mosaico de histórias, este novo e primeiro trabalho roteirizado e dirigido pelo próprio Iñárritu, “Biutiful” (Espanha/México, 2010) não necessariamente faz referências, mas joga com elementos já antes utilizados em seus famosos filmes.

Biutiful-Poster

Uxbal (Javier Bardem) é pai de duas crianças e consegue dinheiro com diversos negócios ilegais. Um homem fechado, introspectivo que, mesmo assim, procura manter seus filhos bem. Sua ex mulher Maramba (Maricel Álvarez), por quem ainda nutre algum sentimento, é uma pessoa bipolar e descontrolada que ainda luta para ter sua família reunida. Ao descobrir que está prestes a morrer devido a um câncer em estágio terminal, o personagem caminha, sem muitas perspectivas, por dúvidas e preocupações que o fazem repensar os sentidos e múltiplos significados da vida e da morte.

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Olhos atentos reconhecerão que tanto na mortalidade, quantos nas inserções de animais e na diversidade de idiomas e nacionalidades, o diretor deixa um gancho para a memória do espectador que o acompanhou em suas três últimas produções. Além de muito sutis, não chegam a chamar muita atenção, já que, ao inverter o estilo pelo qual era conhecido, concentra em Javier Bardem o núcleo de histórias periféricas que vão ajudando público a interpretar o silêncio e a complexidade da personalidade de Uxbal.

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Durante a narrativa o espectador irá se deparar com uma constante angústia refletida pela história, que se apega ao humano e ao terreno de forma forte e dolorida. Apesar do contraste com o espiritual, caracterizado pela vidência de Uxbal e a iminência de seu fim, Iñarritu enraíza sua trama com um ritmo majoritariamente lento, ambientação escura e incômodos visuais. Na frase dita para Maramba (“O que você vê não estrelas, é o seu sistema nervoso”), o protagonista resume a profundidade do longa em uma mensagem clara e objetiva: somos mais carne do que sonhos.


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