terça-feira, 25 de janeiro de 2011

FILOSOFILMES: O Pior Cego...

Frases como "você consegue", "não desista", "você pode!" são comuns quando estamos desestimulados pelas dificuldades impostas pelo destino. Nas horas mais frágeis, seja por doença ou deficiência, tudo parece ainda mais injusto. Dançando no Escuro (Dinamarca, 2000) é um drama musical que explora o lado obscuro e perverso dos que se aproveitam da fragilidade dos outros.


Selma Jezkova (Björk) é mãe solteira e portadora de uma doença hereditária que levará a cegueira. Tentando impedir que seu filho Gene (Vladica Kostic) também fique cego, Selma trabalha o máximo que pode para economizar e pagar uma operação. Só que quando um "amigo", Bill (David Morse) passa por problemas financeiros e a rouba, têm-se início uma série de trágicos acontecimentos.


Depoimentos sobre quem assistiu sempre são parecidos: "Foi um dos filmes em que mais chorei", ou "Não aguentei assistí-lo até o final, é muito triste". A intenção do aclamado diretor Lars Von Trier (que também fez o roteiro) é de deixar os espectadores chorando em boa parte da trama, exagerando no sentimentalismo propositalmente. A carga emocional não seria tão grande se a atuação de Bjork não fosse tão brilhante, quem diria que a cantora com cara de esquimó se sairia tão bem como atriz?


As partes musicais são frutos da imaginação de Selma, sendo uma fuga da realidade nas horas mais duras. É uma forma de dar "leveza" a momentos trágicos e tristes, sentimento compartilhado pelos expectadores. Durante as músicas, a fotografia fica mais colorida, a câmera fica estática, e os elementos de cena são mais explorados, evidentemente o inverso acontece nas cenas "normais".


É importante lembrar que o filme é influenciado pelo polêmico movimento cinematográfico "Dogma 95", do qual Trier é um dos autores. O objetivo é fazer um cinema menos comercial e mais realista, fugindo do modelo consagrado por Hollywood. Algumas regras do Dogma são usadas, como o uso de locações e não de cenários, o desenvolvimento da trama em tempo real (não há mudança temporal) e o uso de câmeras digitais para dar o aspecto de documentário.


Dançando no Escuro é um filme corajoso, inteligente, muito forte, e faz o espectador refletir. Ele tenta ser realista, mas explora o pessimismo. É verdade que situações vividas pela Selma infelizmente acontecem, mas não são frequentes, pelo menos. Quem quiser se emocionar não pode deixar de assistir. É daqueles que você sempre lembrará.

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