
Vinte anos após seu primeiro longa, Scorsese já não tinha que provar nada para ninguém. Entretanto, ele fez mais do que isso em A Cor do Dinheiro ("The Color of Money", EUA, 1986). O trabalho recebeu quatro indicações ao Oscar, incluindo a de melhor atuação, arrematada pelo excelente Paul Newman. O longa tem um estilo bem mais mais limpo do que se espera de uma obra ‘scorsesiana’, uma quebra de estilo que custou o apreço de alguns. Nessa lacuna, algo de tremenda classe e delicadeza sustenta o filme, que tem lá grandes méritos.
Levando uma vida mais pacata sustentada em um lucrativo negócio de bebidas, o ex-campeão de bilhar/sinuca Eddie Felson (Newman) se depara, em sua própria casa noturna, com um jovem de impressionante talento na arte de encaçapar bolas. Estamos falando de Vincent (Tom Cruise), um garoto extremamente inocente que “tem uma mina de ouro nas mãos”, mas não sabe como usá-la. Felson se vê tentado a tutelar o garoto, podendo ensinar a melhor maneira de se ganhar dinheiro enquanto resgata um pouco da aventura que havia deixado no passado. Entre eles está a belíssima namorada de Vince, Carmem (Mery Elizabeth Mastrantonio), uma ex-ladra cheia de esperteza e ganância, mas que nutre um carinho confusamente real pelo companheiro. Formado, o trio corre diversas cidades com jogadas incríveis de sinuca e aprendendo a conviver.
A escolha de um galã das antigas e um bastante atual (estamos falando de 1986) para compor a dupla principal do filme deu certo por vários motivos. O maior deles, é claro, foi atrair fãs com um caso típico de Star System. Mas a beleza dos protagonistas foi bem além dos sorrisos, marcando uma exibição de alta qualidade. Com tomadas charmosas e explorando bem um jogo de sombras, cores e ambientes, o diretor caminhou sobre um roteiro clássico, alfinetando surpresas e confiando no próprio taco.
A busca pelo psicológico em um longo blefe que permeia cada cena de todo o longa, contraposta à natureza quente do jogo, consegue prender o espectador, ainda que falte um peso maior e rupturas no roteiro. A grande sacada do filme é ter o cheiro do que propõe, tanto por fora quanto por dentro. Em cada instante da trilha, luz, direção e roteiro. O elenco contou com diversos jogadores profissionais que se destacaram na década de 80. Diante deles, Cruise não fez feio, sendo responsável pelas jogadas (com exceção de uma) efetuadas pelo seu personagem.