Em 1990, Martin Scorsese já era Martin Scorsese. Depois de fazer "A Última Tentação de Cristo", "Touro Indomável" e, principalmente, "Taxi Driver", a crítica e o público já estavam apaixonados por esse jovem nascido no Queens e vindo de família italiana. Mas como todo italiano, faltava para ele falar de algo tão italiano quanto espaguete e massa de tomate. Os Bons Companheiros ("The Goodfellas", EUA, 1990) conta a história real de Henry Hill, um garoto que sempre sonhou ser um gângster e que, ao longo de 20 anos, se envolve em golpes cada vez maiores ao lado dos companheiros Jimmy Conway (Robert De Niro) e Tommy DeVito (Joe Pesci).
O filme é uma obra-prima. Os 147 minutos são tão perfeitos que fica até difícil escolher por onde começar a falar. O roteiro é impecável: as passagens de tempo, as falas, as situações cotidianas aliadas aos crimes e assassinatos são muito bem encaixados. A trilha... Ah, a trilha! Estrelada por Tony Bennett, Aretha Franklin, Mick Jagger e Keith Richards, a música do filme não é algo que passa e você mal percebe. É quase mais um personagem daqueles cruciais, que, se ele, o filme não teria tanta graça.
Agora, se é um filme de Scorsese, não poderíamos terminar esse texto sem falar da direção. Lembro-me bem de quando "O Aviador" estava concorrendo ao Oscar e nosso amigo Zé Wilker disse durante a transmissão na Globo: "Scorsese não merece ganhar porque já fez filmes muito melhores. Esse é medíocre." No momento, achei um grande exagero. Eu tinha adorado "O Aviador".
Mas quando vi Os bons Companheiros, entendi exatamente o que ele queria dizer. Isso sim é uma aula de direção. Conduzindo o espectador o tempo todo e abusando dos planos longos, Scorsese tem o filme inteiro na palma da mão. Nada aparece por acaso, nenhuma luz está ali à toa. Tudo, absolutamente tudo se encaixa. Que Scorsese era um bom diretor todo mundo já sabia. Mas ele quis provar mais uma vez. E o resultado todo mundo também já sabe: um filmaço.
