sábado, 26 de maio de 2012

Tango Francês



O nosso voo Berlin-Dublin foi cancelado e sem previsão de remarcação. Ficaremos parados? Acho melhor não. Já faz um tempo sem aparecer com novidades aqui então resolvi pegar o primeiro trem para Paris e falar de um dos filmes responsáveis por me fazer querer estudar cinema. Este que quebra o tempo, a moral e – talvez – o bom gosto. Por ser tão diferente de tudo, vamos ignorar sinopses e mergulhar nas sinapses. Iniciamos então, o ciclo França. (Eu posso não beber, mas um vinho até cairia bem para começar).


Sobre o que se trata a história? Direi apenas: Vingança e Amor. Falaremos sobre as sensações causadas, os arrepios sentidos, a perna que mal se moveu após o término do filme. Pode até parecer um desfile de opiniões, mas com Irreversível (“Irréversible”, 2002) nada pode ser tratado de forma sistemática. Seja pelos planos zenitais (esses de cima para baixo, a 90º da linha do horizonte), a violência (gratuita?), o sexo mostrado literalmente a flor da pele ou por simplesmente quebrar a caixa em mil pedaços. A questão é uma só: esta película – com o perdão do trocadilho – inverteu as regras, acabou com as bulas e ignorou qualquer placa de “Perigo”. Com seus planos e emoções giratórios, ficar tonto é a mínima sensação que se terá até o os créditos subirem.


Gaspar Noé é o diretor dessa história não linear estrelada por Monica Bellucci, Vincent Cassel e Albert Dupontel. Noé nasceu em Buenos Aires em 1963 e já coleciona irreverência em sua vida pessoal. Filho do pintor e intelectual argentino Luis Felipe Noé, amigo do cantor Marilyn Manson e casado com a cineasta Lucile Hadžihalilović.


A trilha sonora fica por conta do músico Thomas Bangalter, mais conhecido por ser parte da dupla Daft Punk. A música, o roteiro, a direção: Masturbação intelectual? Falso Cult? Forçado? Denso? Homofóbico? Inovador? As dúvidas não param, o que fica é o gosto de sangue na boca, a dor do soco e os planos sequência incrivelmente belos. Irreversível é um daqueles capazes de dividir pessoas ao meio, repartir opiniões e fazer sangrar a tela. Uma aula de cinema, por ser tão bom e tão ruim, mexe com todos. Não deixa pedra sobre pedra e nem pessoas com sono. Ninguém sai indiferente a ópera da vingança de Noé. Isso é positivo, negativo, neutro? Eu olho para a tela mais uma vez e vejo o reflexo humano, não apenas o meu ser, mas tudo o que somos. A arca do dilúvio parece mais vermelho do que nunca.
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