domingo, 6 de maio de 2012

Luxo e Caos


A essa altura, Scorsese já tinha feito sua obra-prima, "Os Bons Companheiros", que falava sobre a vida de gangsters jovens nas ruas de Nova York. Nela, o diretor mostrou a violência e a fragilidade da vida mafiosa de rua. Em Cassino ("Casino", EUA, 1995), ele sobe o nível social da máfia. Vai para Las Vegas, nos grandes cassinos, e mostra como a história de um mafioso não muda tanto nesse outro âmbito.


Nesse caso, os gangsters são donos de hotéis e cassinos em Las Vegas. Tudo é luxo e excesso. Ternos caros, carros caros, casas caras, mulheres caras. Duas cenas mostram muito bem isso. A primeira, vemos Robert De Niro com um terno rosa, numa tela widescreen, em cores, acendendo um cigarro, andando até seu luxuoso automóvel.  A segunda cena mostra o mesmo Robert sentado sem calças em seu escritório. Ele só as veste quando vai receber algum convidado. A distorção nos valores dos personagem é algo descomunal. De Niro praticamente compra sua mulher, interpretada pela linda Sharon Stone, com um punhado de joias incríveis, que acabam virando o tema central do conflito entre os dois.


O legal de Cassino é que Scorsese mais uma vez deixa o mundo da máfia mais próximo da vida comum. Ele vai até um alto nível de luxo, mas não chega aos Corleone. O próprio diretor diz que, quando fez esses filmes de gangsters, retratou algo que viu em sua infância, que é possível e verdadeiro. De fato, em uma entrevista sobre o filme, Scorsese afirmou, "não consigo ir adiante, este é o ponto mais alto a que posso chegar. Não estou interessado nesse alto nível". Para ele, inclusive, a história de Mario Puzo, filmada por Coppola, é uma fantasia.


Cassino é um must do diretor. Como o próprio disse anos depois: "Eu resolvi que tinha que ser um épico, um épico de três horas, mas muito rápido. Muito rápido, porque no mundo em que eles estavam, as coisas andam mais depressa. Mais tudo, consumo, consumo, consumo. Para mim, representava o que estamos fazendo nesta sociedade". Se existe um grande filme sobre a capacidade do homem de se autodestruir, esse é Cassino, de Martin Scorsese.
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