quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

"15 Minutos de Fama, Depois Descanse em Paz"

O discurso batido da superação e do otimismo gratuito já não são mais novidade; não há gênero que escape – em algum momento – da fatalidade de converter-se em piada pronta. E a biografia-documentário, tão na moda após o fantástico “Is This It”, sobre a última turnê de Michael Jackson, aporta em terras nacionais trazendo, para nós, o mais novo ídolo de todos os tempos da última semana – o “astro” pop Justin Bieber. Justin Bieber: Never Say Never (“Justin Bieber: Never Say Never”, EUA, 2011) é tão completo quanto a história de um garoto de dezesseis anos. Logo, bastante vazio.


Parece pretensioso, para um astro teen que despontou há quase dois anos nas rádios, televisões e, principalmente, internet, embarcar no projeto de traduzir sua turnê de 2010 em um documentário que acompanha, religiosamente, todos os seus passos. A pretensão, portanto, passa longe da necessidade de compreender o sucesso de Bieber como reflexo dos nossos tempos. Sendo assim, é natural que se torne fixa a ideia de explicar o sucesso do rapaz como originado da explosão de um talento excepcional e como fruto da politicamente correta (e norte-americaníssima, diga-se de passagem) perseverança.


A filmagem em 3D do grande show de Bieber no Madison Square Garden é pretexto pra reiterar a imagem do garoto como o atual grande ícone da música pop. A imagem do cantor é exaltada como uma forma de classificá-lo não apenas como um personagem do mundo do entretenimento, mas como um representante do já cansativo (para nós, pelo menos) “american dream”. Pois, ao intercalar imagens do show com cenas de bastidores e dos vídeos pré-sucesso de Bieber, John Chu, diretor e documentarista de primeira viagem, revela a intenção de transformar o filme em mais uma gorda e lucrativa peça publicitária – calcada na retórica do “tudo é possível”.


Os vídeos caseiros que, como já conta a história, chamaram a atenção do rapper e produtor musical Usher, são responsáveis por alguns momentos de lucidez durante o filme. Pois, evidentemente, percebe-se o talento que, indignem-se ou não, o rapazinho carrega em suas mãos. O carisma (pontuado por sorrisos e gracinhas típicas de um adolescente) também garante um frescor em determinados momentos – o que não é, infelizmente, capaz de conter a monotonia dos 105 minutos de duração.


Há de ressaltar que, mercadologicamente, não é, de fato, uma grande bobagem transformar uma turnê de Justin Bieber em uma biografia documental cinematográfica. Sem pretensões de agraciar a crítica especializada ou determinar-se como exercício de estilo, “Never Say Never” não é nada mais do que um filme para os fãs que, obviamente, irão se render ao charme canadense e aos tênis coloridos (e gigantescos) de Justin Bieber.

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