Alguns dos filmes indicados ao Oscar chegam às telonas brasileiras apenas meses depois da cerimônia de premiação, e isso se tiverem a sorte de ganhar alguma estatueta e não serem lançados diretamente em DVD, o que geralmente acontece com os documentários. Os curta-metragens, no entanto, não têm a menor chance de serem exibidos nos cinemas, a não ser que tenham sido produzidos por alguma grande companhia que os "enfie" como prólogo de algum outro filme, coisa que ultimamente só tem acontecido com produtos Disney/Pixar. O post de hoje do Especial Oscar 2011 é dedicado aos cinco curtas de animação e, portanto, tem uma formatação um pouco diferente da habitual no LixeiraDourada. Para começar, veja no selo abaixo os nomes dos indicados e clique em "ler completo" para ver um comentário e a nota de cada um dos filmes.

Day & Night
(EUA, 6 min.)
(EUA, 6 min.)

Produzido pela Disney/Pixar, Day & Night foi o único dos cinco indicados a ser assistido nos cinemas por uma grande audiência, já que era exibido como parte de todas as sessões de "Toy Story 3". Naturalmente, chega como o favorito a receber a estatueta. O filme é praticamente uma exibição técnica da Pixar, que mostra o talento de seus animadores também em técnicas bidimensionais, quando a grande maioria de seus produtos são computadorizados. A mixagem e a narrativa também são impecáveis e, falando em narrativa, o curta conta a história de dois personagens, o Dia e a Noite, quando eles finalmente passam a ter conhecimento da existência do outro. Entre brigas brincadeiras, os dois começam a se exibir, mostrando como são melhores do que o outro para, em seguida, desejarem trocar de lugar, e uma amizade parece surgir quando o sol nasce de um lado e se põe do outro, como uma bela metáfora sobre cooperação e tolerância. Mas não precisamos ir tão fundo para apreciar esse pequeno e simpático filme...

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The Gruffalo
(Inglaterra, 29 min.)
(Inglaterra, 29 min.)
Co-produzido pela BBC, The Gruffalo nasceu como um especial de Natal para a TV britânica e foi exibido nos cinemas somente como parte de programações especiais. O filme é baseado em um livro infantil homônimo e conta a história, narrada pela mamãe esquilo para seus filhotes, das aventuras de um ratinho enquanto ele atravessa uma grande e sombria floresta atrás de uma noz. Em sua jornada, precisa despistar uma raposa, uma coruja e uma cobra, os três famintos e querendo se alimentar do simpático roedor. Para conseguir, ele inventa um terrível animal, o Grúfalo, do qual os três teriam medo, mas acaba se encontrando com a criatura e precisa usar sua lábia também com ele. Grandes talentos emprestaram suas vozes para o filme, a começar por Helena Bonham Carter (de O Discurso do Rei), que dubla a mamãe esquilo, de modo que sua suave voz nos acompanha narrando toda a história. James Corden (de Matadores de Vampiras Lésbicas) é a voz do ratinho, Robbie Coltrane (o Hagrid dos filmes Harry Potter) "interpreta" o Grúfalo e a raposa, a coruja e a cobra são dublados, respectivamente, por Tom Wilkinson (de O Besouro Verde), John Hurt (o Sr. Olivaras, também de Harry Potter) e Rob Brydon (um apresentador e comediante britâncio cujo filme mais famoso deve ser A Festa Nunca Termina). The Gruffalo é o mais longo dos cinco indicados e também o meu preferido, mas a disputa vai ser dura.

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Let's Pollute
(EUA, 6 min.)
(EUA, 6 min.)
Pequeno mas eficiente. Let's Pollute é uma crítica muito clara ao "American Way of Life". Atacando diretamente as tradições consumistas estadunidenses, sua narrativa simples e direta diverte enquanto tenta colocar um mínimo de consciência ambiental na cabeça do povo mais poluidor do planeta. Apelando para a "psicologia reversa", o filme imita a estrutura de um comercial de eletrodomésticos dos anos 50 (que curiosamente é bem similar a de alguns comercias estilo Polishop), e tem um narrador apresentando todas as vantagens de se poluir cada vez mais, passando inclusive por uma espécie de tutorial de como desperdiçar o máximo possível ao longo do seu dia. Vamos torcer pra mensagem fazer efeito em pelo menos alguns dos espectadores…

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The Lost Thing
(Australia, 15 min.)
The Lost Thing
(Australia, 15 min.)
Também baseado em um livro, The Lost Thing conta a história de um rapaz que encontra uma criatura muito bizarra em uma praia enquanto catava tampinhas de refrigerante para sua coleção. Sem saber o que fazer, já que "a coisa" parecia não ter dono, a carrega para casa, mas seus pais mandam que ele se livre de seu novo amigo. Vivendo em uma cidade onde tudo conspira para a manutenção da ordem, ele precisa encontrar um lugar seguro para deixar o "bichinho". Com uma estética única e impressionante, o filme acaba sendo uma bela metáfora de como nosso crescimento e amadurecimento nos obriga a perder a capacidade de perceber as coisas extraordinárias que a vida põe em nosso caminho e, eventualmente, até nos faz negar a existência delas tornando o mundo um pouco mais quadrado e cinzento.

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Madagascar, a Journey Diary
("Madagascar, Carnet Voyage", França, 11 min.)
Madagascar, a Journey Diary
("Madagascar, Carnet Voyage", França, 11 min.)
Uma espécie de filme-colagem, Madagascar, a Journey Diary faz jus ao nome e apresenta uma estrutura perfeitamente comparável àqueles álbuns de fotos típicos de viajantes, com muitas anotações em torno dos retratos e cenários. O filme mostra a jornada de um homem através da cultura da pequena ilha africana e, apesar das técnicas utilizadas o tornarem bonito de assistir, a narrativa é um pouco falha tornando seus poucos minutos longos demais para o espectador comum. A proposta parece ser um tanto imersiva, mas o filme é extremamente superficial, merecendo sua indicação e os vários prêmios que ganhou principalmente por ser perceptível o grande cuidado com sua produção e uma estética um tanto inovadora.
