sábado, 19 de fevereiro de 2011

Uma Não Tão Comédia Romântica Gay

Mais um filme estereotipado ou será a caracterização de personagens? Essa é a dúvida que ficou para mim em Minhas Mães e Meu Pai ("The Kids Are All Right", EUA, 2010). O filme que conta a história de um casal de lésbicas que estão juntas há mais de 18 anos e que tem dois filhos já adolescentes, os quais foram concebidos por meio de um doador desconhecido, acaba tomando um tom um tanto quanto machista, provavelmente devido à parceria da diretora Lisa Cholodenko com o roteirista Stuart Blumberg.


O doador não fica desconhecido por muito tempo, já que a filha mais velha do casal, Joni (Mia Wasikowska), decide ligar para seu “pai” biológico a pedido de seu irmão mais novo, Laser (Josh Hutcherson), que insiste em conhecê-lo. É então que Paul (Mark Ruffalo) entra em cena, tentando se aproximar dos dois adolescentes e, em seguida, de toda a família, acabando por contratar Jules (Juliane Moore) para renovar seu jardim.


Nic (Annete Bening) é a chefe da família e uma médica centrada, assertiva e controladora que, com seu jeito, acaba afastando os que mais ama. Aliás, falando em estereótipos, eu não poderia deixar de comentar que, nesse filme, Annete está a verdadeira personificação da apresentadora americana Ellen DeGeneres, o que só confirma mais a minha visão de que o roteiro e até o figurino foram feitos aos moldes de um público que aceita parcialmente uma família gay com as qualidades de “marido e mulher”. Já sua parceira, Jules (Juliane Moore), o segundo estereótipo, é meio hippie e largou a faculdade para ser dona de casa e cuidar dos filhos (há um certo ressentimento dela quanto a isso, ainda mais quando é questionada por Paul sobre o que faz).


O casal não está em uma de suas melhores fases e a chegada do doador acaba trazendo a tona ainda mais as fraquezas da família. Quando Jules começa a trabalhar no jardim de Paul eles vão se conhecendo um pouco melhor e ela pára de enxergá-lo como um cara qualquer e começa a ver nele expressões e trejeitos de seus filhos, isso acaba confundindo-a ainda mais. Paul é um cara atencioso e simpático que consegue dar a Jules o que ela gostaria de receber de sua parceira e, assim, acaba engatando em uma traição puramente sexual e de gratificação. E essa foi a parte que me deixou mais intrigada quanto a questão da homossexualidade no filme. Quando Jules tira a roupa de Paul e vê seu “prazer externalizado” quase tem um orgasmo ali mesmo, chega a dar a impressão de que ela não via esse “prazer” há vinte anos e que o tempo todo que ela esteve com Nic sentia falta e necessidade “daquilo”. Além disso, logo no começo do filme, o relacionamento sexual das duas nunca seria satisfeito por completo sem alguns… brinquedinhos.


Nic sempre hesitou em se aproximar de Paul. Há uma cena de um jantar na casa dele que tanto a atuação de Annete quanto a direção de Lisa ficaram magistrais. Nic vê o mundo desabando em sua volta e sente que perdeu todo o controle em sua vida. Dá vontade de ficar voltando a cena para conferir de novo. Esse não é o primeiro filme da diretora que chama a atenção, mas é com certeza o que mais fez sucesso com o público em geral. Pena ter desapontado a parcela do público que menos deveria. Fora isso, o longa teve uma direção e atuações dignas de um Oscar. Uma não tão comédia romântica gay que nos faz refletir sobre família e casamento tão heterossexualmente que chega a confundir. Um bom filme pra se ver a qualquer hora, pra se pensar ou simplesmente para se deixar levar.



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