Talvez seja impressão minha, mas parece que esse ano, a cidade de Brasília esteve em evidência. Não só pelo número de manifestações, revoltas e conversas sobre política que se tornaram muito mais frequentes, mas também no cinema. Mas desta vez, o filme não tem nada a ver com a Brasília jovem e sonhadora de Renato Russo ou das músicas do Legião Urbana. O documentário "A Cidade é Uma Só" traz um retrato cruel, e nem por isso menos bem-humorado, da principal cidade-satélite da capital do país.
Numa estrutura que mistura histórias reais e ficção, somos apresentados à Ceilândia, cujo nome deriva da sigla CEI (Campanha de Erradicação das Invasões). Acompanhamos a rotina de três personagens principais, dentre o qual só Nancy traz uma história verdadeira: quando criança, fez parte da campanha que transferiu os moradores de favelas em Brasília para a Ceilândia. Na esperança de que isso fosse trazer benefícios para sua vida e de sua família, entoou o coro de "A Cidade é Uma Só" para uma propaganda veiculada pelo governo. Como muitos naquela época, acreditava que a mudança seria algo benéfico para todos. Além dela, também conhecemos o dia-a-dia de Zé Antônio, vendedor de lotes, e passeamos pela paisagem, que parece quase árida, da cidade. Mas o destaque vai mesmo é para o candidato a deputado distrital Dildu e sua campanha, que proporcionam a maior parte do humor do filme.
Através dessas histórias, o diretor Adirley Queirós, estreante em longa-metragens, consegue passar com leveza o contexto histórico, cultural e social daqueles que vivem na Ceilândia. Conheça você Brasília ou não, ao sair do cinema vai com certeza se sentir mais próximo daquela realidade e, apesar de tudo, convencido de que não, a cidade não é uma só.