sexta-feira, 12 de julho de 2013

A "Princesa" Trabalhadora



Quem lembra de quando a Disney começou a divulgar que teria sua primeira princesa negra afro-americana? Sabia-se que a trama se passaria em Nova Orleans e seria em torno da história do príncipe sapo, mas acho que ninguém esperava uma história tão moderna e até de certa forma racista quanto A Princesa e o Sapo ("The Princess and the Frog", EUA, 2009), de Ron Clements e John Musker.


O filme conta a história da jovem e trabalhadora Tiana (Anika Noni Rose), cujo sonho é abrir seu próprio restaurante na Nova Orleans. Para juntar dinheiro, ela trabalha em dois empregos e não tem vida social. Tudo muda, quando o boêmio príncipe Naveen (o carioca Bruno Campos) chega à cidade e se vê transformado num sapo por um "feiticeiro" voodoo. Para quebrar o feitiço, o príncipe deve beijar alguma princesa, acaba se deparando com Tiana, vestida com uma tiara, e a beija esperando quebrar o feitiço. No entanto, como Tiana não é da realeza, ela é transformada em um sapo e agora cabem aos dois com suas personalidade opostas acabar com esse feitiço.


O filme é maravilhoso. Não só a animação volta ao estilo de desenho animado à mão, da mesma forma que nos contos de fadas originais, como também é o primeiro filme desde "A Bela e a Fera", em que os dubladores e cantores dos personagens são os mesmos, o que dá outro espírito e voz para a história. Também é curioso que toda a animação dos backgrounds da imagem tenha sido feito no programa Adobe Photoshop, famoso pelo uso em manipulação de imagem, mas aqui utilizado para puro desenho.


Outro fator muito importante do filme é a trilha sonora de Randy Newman, que pela primeira vez trouxe o lado do Jazz para os contos de fadas, como era de se esperar, já que a história se passa em Nova Orleans. Mais conhecido por suas trilhas em filmes da Pixar, como "A Vida de Inseto" e "Toy Story", Randy Newman embarcou em A Princesa e o Sapo, pois o compositor Alan Menken estava trabalhando em "Encantada" e a Disney não queria trilhas repetitivas. Essa ideia com certeza surgiu efeito, e duas músicas do filme foram indicadas ao Oscar de Melhor Canção, além de uma indicação à Melhor Filme de Animação.


Ainda assim, o raciso implícito no filme é preocupante. Tiana é considerada uma princesa da Disney, porque acaba se casando com o príncipe (desculpas pelo spoiler, mas quem não esperava?), mas ela começa como a filha da governanta de uma família rica, cuja filha Charlotte La Bouff é loirinha de olhos azuis, prometida para o príncipe. Ela cresce e vira garçonete de dois restaurantes, trabalha o tempo todo e ainda vira uma sapa! No final, sim, felizes para sempre, como se é esperado de um conto de fadas, mas também não é engraçado que este seja o único príncipe não-caucasiano da Disney? A outra exceção é "Mulan", também considerada uma "princesa da Disney", mas também trabalhadora, guerreira e sem qualquer sangue real.


Enfim, o filme é uma das melhores animações da Disney dos últimos tempos, com uma trama bem mais contemporânea, apesar de ainda se passar no início do século XX e como tal ainda sofrer com características preconceituosas. Para quem ainda não viu, com certeza, vale conferir!
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