terça-feira, 23 de julho de 2013

E Assim Caminha a Humanidade



Ainda desconheço o motivo do esquecimento, por parte da sociedade latino-americana, de nossa história, nossos heróis e artista. Nelson Pereira dos Santos, Glauber Rocha, Salvador Allende, Victor Jara, Violeta Parra, tantos outros que são lembrados apenas em rodas de discussão de intelectuais. Onde está a nossa memória? Enquanto esquecemos quem somos e de onde viemos, somo chafurdados por informações vindas do hemisfério norte. O problema não estão nas informações absorvidas, mas na substituição daquelas por estas, esvaindo o que temos de mais precioso: a nossa identidade cultural.


Como já se tornou recorrente, também esquecemos (ou desconhecemos) o cineasta chileno Patricio Kaulen (1921-1998) e um dos grandes clássicos do cinema latino-americano, Longa Jornada (“Largo Viaje”, 1967, Chile). Trata-se de uma severa crítica à sociedade chilena contrastando a rica e moderna Santiago com a pobreza das periferias. Um grupo de pessoas, “invisíveis” para o governo e para as classes mais abastadas, tentando sobreviver numa cidade hostil, dura e implacável. Mesmo seguindo o caminho traçado pelos mestres do Neorrealismo Italiano, Kaulen demonstra seu talento ao não se ater ao escapismo (morte) como solução.


A ingenuidade e as peculiaridades dos rituais dos campos também fazem parte da história, apresentando o Chile ao chile. O enredo se dá a partir de uma cerimônia fúnebre conhecida como “El Rito del Angelito”. Segundo a tradição campesina, quando morre uma criança menor de três anos, seu corpo é adornado com um par de asas feitas de diferentes materiais, túnica branca e, em suas mãos, um buquê de flores. Uma grande festa é celebrada com muitas orações, vigília, comidas e bebidas (também alcoólicas), em abundancia, e muita música. Acredita-se que não possui pecado por ter ido tão cedo. Sendo assim, não há motivos para lágrimas.


A Longa Jornada acontece quando o corpinho de uma criança é levado para o cemitério sem suas “asas”. Seu irmão, um menino de oito anos, com medo que o angelito não consiga chegar ao céu, cruza a cidade a fim de devolver as asas. Aí vemos o quão cruel pode ser uma “grande cidade” com seus “pequenos”.


Sem dúvida, temos aqui uma obra cujo valor é incalculável. Influencias do movimento italiano e de Luis Buñuel são percebidas nesta incrível obra. Uma forte demonstração do desequilíbrio social dos anos sessenta, mas que ainda pode ser visto atualmente. 
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