
O ventre materno pode se romper antes dos nove meses de gestação, assim como o cordão umbilical pode permanecer até o fim de nossas vidas. Estou a falar aqui não da relação saudável entre mãe e filho(a), e sim aquela aonde há uma coleira umbilical, pronta para enforcar o filhote caso ele saia da vista e limites de sua dona. Tratamos agora aqui de um talvez bom exemplo para os freudianos.
De um curta em 2007 intitulado com o nome do protagonista para 10 Horas do Paraíso ("10 timer til paradis", 2012, Dinamarca). O longa conta a história de um tímido fisiculturista profissional com problemas para encontrar a mulher de seus sonhos. - A relação entre Dennis (Kim Kold) e sua rígida mãe Ingrid (Elsebeth Steentoft) é complicada, o filho só tem vantagem sobre sua matriarca em altura, com quase o dobro do seu tamanho, em todos os outros itens sua mãe o supera, suprime e oprime. Dennis é quase um bebê de 38 anos ainda super protegido.
O filme tem um roteiro sutil com pontos de virada quase imperceptíveis, porém muito importantes. Toda a trajetória de emancipação de Dennis é contada com muita delicadeza e sofisticação, em contraste direito ao visual rústico do personagem protagonista. A ótima direção não fica para trás e emparelhada a uma fotografia mais realista de tons pastéis, somos jogados na ponte aérea entre Dinamarca e Tailândia.
O ideal do homem, masculinidade e influências do meio permeiam lentamente o conteúdo do longa. Alguns podem terminar de assistir sem se dar conta do que passou, tamanha a naturalidade com que os fatos ocorrem. E exceto por um detalhe do meio para o fim, o filme não é perfeito. No mais, agrada de dinamarqueses gigantes a pequenos tailandeses. Uma obra gentil de mais uma safra brilhante de Sundance.