
É interessante ponderar como alguns filmes ganham destaque demais,
outros de menos. A brilhante atuação de Matthias Schoenaerts passou pelas
sombras em premiações. E o próprio filme não teve a atenção que merecia no
circuito internacional, embora tenha sido indicado ao Oscar na categoria Melhor
Filme Em Língua Estrangeira. – De uma forma ou de outra, relatamos agora porque
essa película merece a sua atenção.
O filme teve o cruel desafio de conquistar o público contra o grande favorito
da crítica, e meu filme favorito de 2011, Uma Separação (Jodaeiye Nader az Simin, Irã, 2011), concorrente e vencedor do Oscar. – Ainda assim, dentro de
milhares de produções americanas e do resto do mundo, ele está, sem dúvida,
entre cinco melhores daquele ano.
Em Cabeça de Touro (Rundskop, 2011, Bélgica), o jovem fazendeiro de Limburg,
Jacky (Schoenaerts), recebe uma perigosa proposta de um inescrupuloso
veterinário. O que se sucede, é uma série de eventos do destino e da sorte, da
má sorte. Um turbilhão de elementos cercam Jacky e seu passado misterioso.
Bem, esse é o argumento principal. Para mim, o filme conseguiu ir muito
além disso. Esse é o combustível que faz a locomotiva andar, o mais
interessante mesmo é a própria locomotiva em si. Jacky é um personagem
extremamente bem construído tanto em termos de roteiro como direção. –
Colocou-me para pensar na edificação do homem na sociedade. Como alguns são
perfeitos produtos da domesticação civil, e outros beiram a bestialidade. Há
ainda aqueles capazes de transitar pelos dois mundos, por vontade própria ou
motivos patológicos.
Cabeça
de Touro é belamente fotografado em oposição à representação cruel daquele
mundo. Se vestirmos o couro de Jacky, estaremos experimentando uma
masculinidade artificial dentro de uma silenciosa quase guerra civil. – Não se
deixe enganar pelos acontecimentos do presente do filme, nada ali seria como é
se não fosse pelo passado como ele se decorreu. A grande beleza da película
está nos personagens, animais e seres humanos.