terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Uma Estação no Inferno


"Antigamente, se bem me lembro, minha vida era um festim no qual todos os corações exultavam, no qual corriam todos os vinhos. Uma noite, sentei a Beleza em meus joelhos. - E achei-a amarga. - E injurieir-a."



O jovem Rimbaud pode ter escrito tais versos há mais de um século atrás, e ainda assim, o tempo não tirou da memória coletiva suas palavras. O mesmo acontece com o roteiro de Amor (Amour, 2012, França, Alemanha, Áustria), o mais novo filme do brilhante diretor Michael Haneke possui diálogos no nível das grandes poesias e contos. Dignos de serem citados e recordados. Com o poder de mostrar o amor do lado belo e de bom odor da moeda, e o outro: sujo e cruel.


O filme conta a história da aposentada professora de piano Anne (Emmanuelle Riva) e seu companheiro, marido e amigo de décadas Georges (Jean-Louis Trintignat). O amor e afeto entre os dois é quase palpável através da tela. A construção da relação entre eles é maravilhosa, e é quase impossível não adoecer junto com Anne, quando ele começa a enfraquecer de saúde. - Somos transportados para a realidade desse doce e intelectual casal, como se fôssemos um de seus filhos preocupados e ansiosos por notícias.


A direção de Haneke exibe suas características câmeras de corredor, colocando-nos exatamente aonde ele quer. Nervosos para saber o que se acontece por trás das portas que a câmera não entra. Assim, com brilhantes atuações e um lindo apartamento, o vislumbre fílmico a nossa frente é maravilhoso. Um presente para a cinematografia mundial e para os corações frios. - Todo meu amor por histórias com pessoas da terceira idade só aumentou depois desse. Para todos os cineastas por aí que só fazem e têm ideias com personagens jovens, estão a perder um interessante mundo experiente e belo.


 "Armei-me contra a justiça. Fugi. Ó feiticeiras. Ó miséria, ó ódio, a vós é que foi confiado o meu teseuro! Tudo fiz para que se desvanecesse em meu espírito a esperança humana. Como um animal fezo, investi cegamente contra a alegria para estrangulá-la. Conjurei os verdugos para morder, na minha agonia, a culatra de seus fuzis. Conjurei as pragas, para afogar-me na areia, no sangue. Fiz da desgraça a minha divindade. Refocilei na lama. Enxuguei-me ao ar do crime. E preguei boas peças à loucura."

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