
Iniciando a carreira em longas-metragens
de maneira brilhante com o filme Nove
Rainhas (“Nueve Reinas”, 2000, Argentina) que, quatro anos depois, ganhou
um remake hollywoodiano financiado
pela produtora de Goerge Clooney e Steven Soderbergh, em A Aura (“El Aura”, 2005, Argentina), Fabián Bielinsky tentou manter
a sua marca apostando, mais uma vez, na parceria com o ator Ricardo Darín. O
que deu certo. A história tem um caráter dinâmico e surpreendente, que entretém
e aguça o pensamento do público.
Darín, que vive um taxidermista
(empalhador) melancólico que sonha um dia realizar o “crime perfeito”, faz uma
ousada atuação que arrebatou críticos de diversos países. Diferente do
personagem Marcos (Nove Rainhas), inescrupuloso, Esteban (A Aura) é do tipo frágil,
por sua epilepsia, calado e observador. Passamos o filme nos perguntando: “será
que uma hora haverá o tal ‘crime perfeito’?”, dado a sua boa índole e
passividade.
Mas o que o público não está
(estava) acostumado era com o nome de Fabián Bielinsky e sua incrível
capacidade narrativa para Thrillers de
ação. O filme, apesar da sua “história base”, possui um emaranhado de histórias
secundárias que, por fim, se convergem. Há quem diga ser esta a sua obra-prima,
desbancando o já clássico do cinema argentino Nove Rainhas, se estão certos, cabe a cada um decidir, afinal,
chega um momento em que as qualidades técnicas não são mais critérios para um
julgamento. Fica apenas o gosto pessoal.
Merecem destaque o roteiro,
dinâmico, a direção madura que soube aproveitar de ótima maneira os ambientes
em que se passa a trama (floresta), a pitada de romance dentro de uma narrativa
tensa e pouco convencional e, claro, a atuação de Ricardo Darín, considerada a
mais brilhante de sua carreira. É um daqueles filmes que te prendem na cadeira
e tomam o seu ar do início ao fim. Ficamos com a frase de Hobbes "o homem é o lobo do homem" no nosso subconsciente.
Em 2006, na cidade de São Paulo, Bielinsky nos deixou. É uma pena ele não estar mais entre nós. Seria um dos grandes nomes do cinema latino-americano, assim como já é do argentino, com dois longas na carreira.