
Quando ainda sonhava em difundir com glória o mundo fúnebre, caótico e melancólico de sua mente nas telonas de cinema, Tim Burton escolheu um dos argumentos de sua imensa caixa de ideias e fez o seu sexto curta-metragem. O diretor não ficou satisfeito, já que, sempre que rabiscava coisas novas, sonhava com grandes produções. Ainda assim, a história deu tão certo que abriu as portas para sua série de longas metragens. Em 2012, Burton pagou uma dívida íntima e refez Frankenweenie (2012, EUA) dispondo de todo dinheiro, ténica e moral que queria ter em 1984.
A obra é um alívio para o diretor e uma homenagem nostalgica à história que lhe permitiu se tornar o nome mais promissor da década de 80. Assim como o curta-metragem homônimo, o novo filme nos apresenta a um tal de Victor Frankenstein, um garoto que perde seu melhor amigo em um acidente de carro. Inspirado nas aulas de bioelectricidade do Sr. Rzykruski, o menino tenta ressuscitar um remendo das partes mortas de Sparky, o adorável cachorrinho. O que acompanhamos é uma versão óbvia do clássico terror gótico “Frankenstein”, mas que, como de costume, retrata subliminarmente a persistente infância do próprio diretor, que procura
Também como o curta, o longa-metragem é todo em preto e branco e filmado com a técnica stop motion, opções que colaboram para a dinâmica climática do mundo por trás da mente de Burton (um recorte próprio do cinema B dos anos 30 e 40). Seguindo essa lógica, temos um professor moldado em Vincent Price (ídolo mor de Burton) e um colega de classe inspirado em Boris Karloff, por exemplo, além de diversas referências a clássicos de terror.
Mesmo com um clima trincado, Frankenweenie conseguiu seu lugar ao sol. Ele concorre ao Oscar de Melhor Animação em Longa Metragem. Não acredito que possa vencer, mas é muito bom saber que um filme com moldes rusticos-clássicos, cheio de técnica, emoção e beleza foi contemplado, ainda que esteja fora dos padrões. Trata-se de um trabalho comparativamente simples, artezanal, mas que cumpre impecavelmente sua missão e que não fica para trás dos concorrentes.
*Curiosamente esse é o primeiro lançamento em que o diretor abriu mão da participação de Johnny Depp desde “Peixe Grande e Suas Histórias Maravilhosas” (2003). Também é a primeira obra em que a mulher de Tim Burton, Helena Bonham Carter, fica de fora desde “A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça” (1999).
