quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Patinho Feio



Cisne (Portugal, 2011), escrito, dirigido e produzido por Teresa Villaverde, conta a história de Vera, uma cantora solitária de fado, no encerramento de sua turnê em Lisboa. Ela vive um amor platônico com Sam e, em paralelo, para cada cidade em que passa, escolhe um acompanhante por intermédio de um questionário. É assim que Pablo entra em sua vida, um rapaz jovem e misterioso. Através da relação que se estabelece, ambos têm suas histórias transformadas a partir de uma criança e sua tragédia particular. 


A consolidação do enredo se desenvolve com muitos tropeços; a trama extensa envolve sub-tramas paralelas que não são bem administradas e deixam a história solta e imprecisa. Alguns personagens não têm razão de existir e, sem um propósito específico, apenas atribuem um tom idiossincrático que destoa do todo, como é o caso do envolvimento de Sam com uma anã. Assim como veio, vai embora, servindo apenas como recurso estilístico, sem outra função além de imprimir exotismo e estranhamento. Outros elementos narrativos ficam em aberto e são sacrificados sem sutilezas, no intuito de convergir a história para uma finalidade, comprometendo a relação do espectador com o todo.

   
Trata-se de um filme ambicioso com pretensões artísticas. No entanto, há um vácuo entre a intenção e o produto final. Os sucessivos close-ups alternados com planos abertos alongados parecem buscar uma dosagem entre emoção crua e afastamento reflexivo, que não se concretiza. As atuações excessivamente coreografadas deixam Cisne sem alma e não alcançam nem o melodrama visceral, nem o comentário gerado pelo distanciamento emocional. O resultado é um limbo que concede ao sofrimento humano tonalidades patéticas.

A imagem da criança é explorada no papel de vítima – e também de redentora – em um mundo sem pureza, espontaneidade e amor; é o patinho feio que se transforma em cisne e é capaz de mudar o universo ao seu redor. Mas esta concepção do mundo infantil, elemento central do filme, não é construída claramente e torna-se mais um aspecto aleatório arremessado ao caos narrativo.





A tentativa de resolver o dilema da solidão através de soluções que prezam mais pelo estilo do que pela construção das motivações de seus personagens, gera apatia e cisão entre o espectador e o conteúdo projetado na tela. A partir daí, cria-se um abismo difícil de ser atravessado. Em especial porque falta vontade de criar conexão diante de uma lacuna tão grande.

A ironia reside no fato de que o filme – cuja principal proposta é conectar os fragmentos humanos – seja tão fragmentado em si mesmo, trazendo em seus alicerces a inviabilidade do vínculo cinematográfico primordial entre espectador e filme. Ao que parece, involuntariamente, Cisne criou uma linguagem interna muito coerente.

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