
Tenho um péssimo costume quando vou assistir a um filme. Analiso os cinco primeiros minutos e, se não me agradar, paro de ver (claro que isso não funciona no cinema). Bem, já me livrei de muitas produções horríveis com essa prática, mas também já deixei de apreciar belíssimas. Acho que devo isso aos inúmeros artigos e livros que leio sobre apresentação de roteiros.
Em Biutiful (México, 2010), o diretor mexicano Alejandro Gonzalez Iñárritu consegue, nos minutos iniciais, prender o espectador. A sequência inicial é intrigante. O longa começa com a mão de Uxbal (Javier Bardem) em close-up, evidenciando uma aliança com brilhante. A cena é conduzida por uma voz feminina que fala sobre a origem da joia – não vemos quem está conversando com o protagonista. Em seguida, entramos num sonho do personagem, em meio a uma floresta coberta pela neve, e mais um diálogo fundamental para o desenrolar do filme. Na terceira, Úxbal está num consultório médico fazendo um exame que comprova uma doença.
O filme conta a história de Úxbal, um médium que tem diagnosticado câncer de próstata em estágio avançado. Como se não bastasse, enfrenta problemas com sua ex-mulher – bipolar e alcoólatra – e tem a difícil tarefa de criar seus dois filhos. Vivendo de atividades ilícitas de agenciamento de imigrantes ilegais africanos e chineses, o personagem-guia tenta consertar seus erros do passado, sua redenção, e garantir um futuro tranquilo para seus filhos.
A interpretação de Javier Bardem é espetacular. É incrível como ele consegue dar vida à Úxbal. Nos deparamos com um homem verdadeiramente enfermo e angustiado, sem rastros do que seria a interpretação de um ator. É tenso acompanhar essa história.
Inárritu é conhecido pela abordagem de temas pesados em seus filmes, entre eles a própria morte. Biutiful não é diferente, mas impressiona pela forma como que o diretor consegue dar beleza ao que é naturalmente triste.