
Agradecemos ao cíclico, ao mundo que gira. Já
observou muito bem Walter Benjamin: “Entre 1865 e 1875, alguns grandes anarquistas,
sem comunicação entre si, trabalharam em suas máquinas infernais. E o surpreendente
é que, de forma independente, eles tenham regulado seus mecanismos de
relojoaria exatamente à mesma hora: foi simultaneamente, que quarenta anos mais tarde,
explodiram na Europa ocidental os escritos de Dostoiévski, de Rimbuad e de
Lautréamont.” Essa implosão de dentro da
literatura e ruptura com o passado, chamou Benjamin de surrealismo.
Nesse mundo então que encontramos o universo do
filme Viridiana (Viridiana, 1961).
Revoltado, revoltante e inteligente. O
filme com 90 min de duração e em preto e branco foi dirigido e escrito por
Buñuel.
Viridiana (Silvia Pinal) é ordenada freira.
Logo depois ela resolve fazer uma visita ao seu tio, um solitário homem à beira
da morte. Ele se torna viciado na beleza da jovem e tenta de todas as maneiras seduzi-la
antes de morrer, e falha. A morte do tio faz Viridiana refletir e decide
então desistir de ser freira. Passa a morar na casa deixada por ele e
transforma o lugar em um albergue. Ainda cheia de culpa cristã e vontade cega
de ajudar, não percebe as verdadeiras naturezas de seus hóspedes.
Se há cinquenta anos o surrealismo abalou a
sociedade, o que aconteceria com esse filme hoje? E se houvesse em nosso tempo um movimento que colocasse a prova essa normalidade burguesa a qual nos acostumamos e gostamos tanto? Seu lugar é garantido na história, e sempre penso em como ele foi recebido na época se até hoje ainda choca os
mais conservadores... Enfim – Uma verdade seja dita, polêmica ontem, obra prima hoje.
Não que isso seja uma equeção sempre certa, porém nesse caso vai além da
verdade. Viridiana é curto e grosso. Passa a mensagem de forma clara, sem ser simples e infantil. Fica essa enorme dica, meus caros.