sábado, 4 de fevereiro de 2012

Entre Cachorros e o Inferno



É o último dia antes de partirmos para a Terra dos Beatles. Desventuramos-nos pela viagem da vida, sem asas e com nenhum colete a prova de balas. Então às vezes a gente precisa descobrir o que não se pode praticar para só então fazermos. Criminosos de mente sã. Termino de arrumar as malas e olho por cima do ombro. A Dinamarca se despede com uma excelente comédia trash, humor negro de primeira: Na China Eles Comem Cachorros (“I Kina Spiser de Hunde”, 1999).


Este filme é dirigido pelo também coordenador de dublês Lasse Spang Olsen e escrito pelo ótimo roteirista Anders Thomas Jensen. Sua duração é relativamente curta, mas cheio de voltas interessantes e renovações de atenção, quando você pensa que tudo está resolvido... Espere mais um pouco, há muito por vir e detalhe para a trilha sonora totalmente nada a ver, no melhor sentido, é claro.


Arvid (Dejan Cukic) é um ser humano extraordinariamente comum, trabalha em um banco na parte de empréstimos, não suporta quando sua namorada suja as coisas e tem aparência esquecível. Sua vida muda drasticamente quando seu local de trabalho é assaltado, mas com uma raquete de tênis ele acerta o ladrão e vira notícia. O que seria a trajetória de um herói, torna-se uma jornada de adversidades, no mínimo, curiosas. O primeiro passo para a mudança é encontrar-se com seu irmão Harald (Kim Bodnia), criminoso e dono de um restaurante.


Apesar do apelo cômico, a história pode ser lida de diferentes formas. O que para muitos pode ser apenas um gás do riso, eu vejo elementos químicos diferentes. Não é tentar forçar nada, é realmente possível pescar um ou outro assunto nas entrelinhas. O filme tente mostrar, por exemplo, como os irmãos são completamente diferentes, mas aos poucos vamos vendo como eles se parecem mais até do que gostariam. Ser meigo e agressivo todos têm um pouco. Se somos de mundos díspares, ainda vamos pertencer ao mesmo universo, colidindo ou não.


Termino de escrever enquanto encaro a janela, olho sem atenção para as imagens atingindo meus olhos. O trem já começa a partir. Vou lembrando cada dia, cada filme. Os ingressos guardados na mala e as sensações no peito. Começamos com romance, refletimos, falamos de humanidade e família. E terminamos com um sorriso nostálgico. Não daqueles que apenas nos prendem ao passado, mas do tipo “Adorei e quero mais”. O riso nervoso chega à garganta, mesmo tão violento o último filme alivia a alma. Um paradoxo interessante, a análise fica para a próxima. Isso não é teatro, mas está na hora de fechar as cortinas. Afinal, a Inglaterra é logo ali.
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