sábado, 13 de abril de 2013

Ballet Tecnológico


Um destaque artístico, tecnológico, filosófico e até publicitário para a história do cinema. Essas são algumas das rotulagens dadas pela crítica durante as últimas quase cinco décadas a 2001: uma odisseia no espaço (“2001: a space odyssey”, 1968, EUA/Reino Unido). Não é nenhum exagero. O oitavo filme de Stanley Kubrick é um marco em cada um destes itens e nada menos do que revolucionário.


Regado de simbologias e interpretações, o longa desliza pela história do homem diante de si, da vida, da morte, do tempo e da tecnologia. Para isso, o diretor foi até os primórdios, quando os ancestrais de nossa raça aprendem a utilizar ferramentas, seja para conseguir alimento ou, pouco mais tarde, se sobressair aos outros. Em um dos cortes mais magníficos de todos os tempos, viajamos milênios, de um passado ancestral até um futuro ainda sonhado. Os homens estão amparados por uma tecnologia repleta e fascinante. Parece não haver mais limites e o espaço já é facilmente colonizado. Nesse contexto, conhecemos Bowman (Keir Dullea), um astronauta que mergulha numa linda mistura onírica de universo.


2001: uma odisseia no espaço é um dos poucos trabalhos realmente reconhecidos de Kubrick enquanto o diretor ainda estava vivo. Sua incrível estrutura rendeu o Oscar de Melhores Efeitos Especiais após uma exibição inacreditável para uma época sem computadores (os efeitos ópticos eram criados a partir de truques de múltipla exposição no negativo). O prémio é pouco diante da relíquia criada. O conjunto de ótimos planos, cortes, tecnologia e ritmo fizeram com que o filme se tornasse algo amplamente poético e contemplável. Somos tomados por uma dança sensível de naves que flutuam em um universo seco, amparado por uma trilha sonora brilhante, que hipnotiza, causa impacto e comove. A mesma dança é observada nos primatas ancestrais em sua luta por território e nas luzes psicodélicas que tramam o infinito imortal e atemporal praticado no longa. O resultado é algo que se expressa em uma linguagem praticamente sentimental, como um clássico da música instrumental.


Vemos aqui o gênero “ficção científica” sendo utilizado não apenas para entreter (como de costume, principalmente na época), mas para filosofar e poetizar. O próprio diretor afirmou ter planejado afetar o conscinete profundo do espectador, de forma emocional e não apenas narrativa. É um filme para se sentir, mesmo antes de entender. O projeto aborda profundas simulações do caráter humano em condições específicas, formula previsões e coloca em pauta a relação do homem com a máquina. Todo o misto de suavidade e energia criado por Kubrick nesse trabalho faz com que o mesmo se torne uma arte pura e incontestável, capaz de fundir toda potencialidade do cinema com beleza, graça, inteligência, reflexão e inovação. Eu poderia fazer um texto enorme, explorando o sumo de cada item e as grandes influencias do filme, mas é melhor que cada um aprecie do seu modo, curta e interprete esse fenômeno da sétima arte.
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